Nos bastidores da fé

Blog de crítica ao teísmo, em defesa do racionalismo e da ciência. Pretende abordar assuntos sob o tema "deus" e suas idiossincrasias.


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terça-feira, julho 29, 2003


A propósito, estava para postar isso aqui faz tempo:

As guerras religiosas apenas desse final de século: Guerra do Golfo, Guerra do Kosovo, Guerra da Yuguslavia, Guerra entre Ortodoxos Cristão e Muçulmanos da Caxemira, Iorubas e Hausas se hostilizam, na Nigéria. As tribos Kabiye e Ewe se trucidam, no Togo. Os Baganda e os Banyarwanda investem contra os Acholi e os Langi, no norte de Uganda. Há repressão com a minoria religiosa no Iraque, República Democrática do Congo, Quênia, Birmânia, Bangladesh, Sri Lanka. Além dos citados, há conflitos étnicos religiosos atualmente (1997) nos seguintes países: Afeganistão, Albânia, Angola, Armênia, Bornéu, Burundi, Camarões, Camboja, Congo, Croácia, Djibuti, Guatemala, Israel, Irã, Iraque, Iêmen, Libéria, Marrocos, Mindanao, Moçambique, Níger, Nigéria, Palestina, Paquistão, República centro-africana, Ruanda, Senegal, Serra Leoa, Sudão, Tadjiquistão e Uzbequistão. Tudo isso fora os pequenos conflitos existentes como os dos Católicos da Irlanda do Norte (IRA) e protestantes na Inglaterra.

E para complementar, uma frase do Dawkins:

“Muitas das coisas que as pessoas fazem, fazem em nome de deus. Os irlandeses mandam-se uns aos outros pelo ar em seu nome. Os árabes mandam-se a si próprios pelo ar em seu nome. Os imãs e os aiatolas oprimem as mulheres em seu nome. Os papas e os padres celibatários destroçam a vida sexual das pessoas em seu nome. Os shohets judeus cortam a garganta de animais vivos em seu nome. As proezas da religião no passado – cruzadas sangrentas, inquisições que praticam a tortura, conquistadores que assassinam em massa, missionários que destroem culturas, resistência legalmente reforçada a cada nova verdade científica até ao último momento possível – são ainda mais impressionantes”
(Richard Dawkins)

E ainda dizem que fazem tudo isso em nome de um deus perfeito e bondoso. Ok...

Um ótimo texto sobre a Inquisição se encontra aqui: http://www.uol.com.br/bibliaworld/igreja/estudos/inqu002.htm
# posted by Delerue @ 9:48:00 PM  ::  




Tá certo, andei muito sumido, admito. Mas é que agora arrumei um trabalho escravo (só falta o chicote) e mal tenho tempo para fazer o que mais gosto, dormir. O dia inteiro vendendo computadores e resolvendo problemas alheios - como o mundo dá voltas... Enfim. Aqui está mais uma parte da seção "Porque sou ateu". Espero poder dar continuidade a ela. Abraços e desculpas pela demora.

Porque sou ateu - Parte VIII - A impossibilidade da onipotência

Onipotente: que pode tudo; que é todo-poderoso; que dispõe de autoridade ou poder absoluto; cujo poder é ilimitado, irrestrito.

O Universo funciona baseado em algumas leis que conhecemos e muitas outras que ainda não conhecemos. A mente humana, não diferente, encontra-se numa posição complicada quanto se depare com paradoxos. Por exemplo, para nós nada por ser e não ser ao mesmo tempo. No entanto, a onipotência afirma que tudo é possível, o que vai justamente contra qualquer senso de cognição.

A seguir três proposições básicas são colocadas para demonstrar a incoerência da onipotência divina, tal como pregada pelos teístas.

1. Acaso deus seria capaz de se matar? Se ele for capaz de tal proeza, ele não é onipotente, pois não seria invulnerável. E se ele não for capaz de tal proeza, ele também não é onipotente, pois não teria o poder de se matar;

2. Acaso deus seria capaz de criar uma pedra tão pesada que nem ele próprio conseguisse levantar? Se ele for capaz de tal proeza ele não é onipotente, pois não seria capaz de levantar a referida pedra. E se ele não for capaz de tal proeza ele também não é onipotente, pois não seria capaz de criar tal pedra;

3. Acaso deus poderia construir algo indestrutível? Se ele for capaz de tal proeza, ele não é onipotente, pois não conseguiria destruir esse algo. Se ele não for capaz de tal proeza, tampouco pode ser onipotente, pois sua onipotência afirma que tudo é possível.

Considerando ainda que deus seja uma entidade onibenevolente, torna-se paradoxal também o fato dele ser onipotente, pois a onipotência alega poder tudo, mas se ele é infinitamente bondoso, não pode fazer qualquer tipo de mal – o que comprovadamente faz –, não sendo, por conseguinte, onibenevolente e onipotente.

Conclusão: a mente humana não compreende o conceito da onipotência, pois tal definição se auto-contradiz inúmeras vezes. Portanto não é possível afirmar que deus – ou qualquer outra coisa – seja onipotente.
# posted by Delerue @ 8:12:00 PM  ::  




quarta-feira, julho 23, 2003


Porque sou ateu - Parte VII - A criação

Criar: conceber, tirar aparentemente do nada, dar existência.

Segundo a hipótese teísta, deus criou o Universo. Mas criar é tirar do nada e pôr a existir. Como isso se explica? De onde proveio todo – o imenso – material cósmico que constitui o Universo? Seria humanamente impossível conceber a idéia de tirar algo do nada e pôr a existir. Nenhuma mente humana consegue compreender idéia tão insana. Como exemplo podemos citar a matemática, que estuda os acontecimentos do Cosmos. Pergunto: seria possível um matemático conseguir ao menos uma unidade trabalhando apenas com infinitos algarismos nulos (o zero)? Haveria chance de se extrair dos infinitos zeros (o nada) uma unidade (algo)? Certamente não. Além disso, se deus é infinito, nada mais pode existir, pois tudo já existe – por definição. Logo ele não pode ter criado algo que já supostamente existia. Podemos então concluir que uma entidade criadora é humanamente incognoscível, e, portanto não deve ser considerada. Então iremos considerar a partir de agora que deus não tenha criado nada, mas construído.

Os teístas, em sua esmagadora maioria, tentam explicar o porquê da criação, mas falham por, mais uma vez, adiarem o problema com respostas superficiais, incoerentes e infundadas. Por que teístas conseguem responder a tudo e cientistas não? De onde provém toda a fonte de sabedoria que os teístas alegam possuir? Afinal de contas, o que levou deus a construir a imensidão do Cosmos? Qual o sentido da existência de tudo isso? Onde encontramos tais respostas e por que confiar tão plenamente nelas?

Segundo a própria definição teísta, deus é uma entidade perfeita. Vemos que perfeito é: aquilo que se caracteriza por ser completo; cabal, rematado, total. Se deus é completo, total, tudo, então é fácil concluir que ele não poderia ter construído o Universo por duas razões:

1. Deus, segundo os próprios teístas, é um ser perfeito e, conseqüentemente, imutável. Ora, se ele é imutável, como pode ter tido alguma idéia? Como pode ter construído algo? Essa hipótese só consegue um feixe de coerência se for considerado ou que deus é tudo e tudo sempre foi deus, concluindo-se então que deus é imutável, mas não pôde ter construído nada; ou então que deus construiu o universo, mas sua inexorabilidade jamais foi plena;

2. Ainda considerando a perfeição divina, então devemos perceber que ele não deveria depender de nada para continuar existindo, visto que ele atingiu o estágio da perfeição, ou seja, o ponto em que nada mais é preciso; a independência máxima. Considerando essa dedução óbvia, é pertinente concluir que deus não poderia ter a idéia de construir o universo, pois, sendo perfeito, não necessita de nada.

Conclusão: Mesmo considerando deus uma entidade construtora, e não criadora, ainda continuamos num impasse no que concerne sua definição, pois algumas incoerências e contradições ainda permanecem, impedindo, portanto, que nenhum indivíduo compreenda suas supostas ações. Dessa forma podemos afirmar que deus, numa visão lógica, jamais construiu o Universo e nem muito menos o criou.
# posted by Delerue @ 1:34:00 AM  ::  




segunda-feira, julho 21, 2003


Simpatia para emagrecer
Por Chico Xavier

Quarta-feira: De manhã, coloque meio copo d´água e dentro dele o número de grãos de arroz correspondente aos quilos que você deseja perder. Não coloque grãos a mais que você deseja, pois os quilos perdidos não serão recuperados. À noite, beba a água, deixando os graõs e complete novamente com meio copo d´água. Quinta-feira: De manhã, em jejum, beba a água deixando os grãos completando novamente com meio copo d´água. Sexta-feira: De manhã, em jejum, beba a água, e desta vez, com os grãos de arroz junto. OBS.: 1° - Importante: conserve o mesmo copo durante o processo. 2° - Não faça regime, pois a simpatia é infalível. 3° - Tirar o número de cópias correspondente aos quilos que você deseja perder. 4° - Comece na quarta-feira após distribuir as cópias e 5° - Publique na mesma semana.


E alguém ainda leva esse cara a sério... É realmente triste.
# posted by Delerue @ 5:18:00 PM  ::  




Porque sou ateu - Parte VI - A inteligência suprema

“Quando dizem a um ateu que deus é incognoscível, ele pode interpretar esta alegação de dois modos. Ele pode supor, primeiramente, que o teísta obteve conhecimento acerca de um ser que, como ele próprio admite, não pode ser conhecido; ou, por outro lado, pode assumir que o teísta simplesmente não sabe do que está falando”.
(George Smith)

A melhor forma que um teísta encontra para tentar contornar os contra-argumentos que o ateu propõe é afirmando que deus é incognoscível. Isso se demonstra falacioso, visto que não há provas para se afirmar que deus existe e é incognoscível. Mas mesmo considerando essa hipótese, o mais coerente seria supor que ninguém deva perder tempo pensando em algo se esse algo é humanamente incompreensível.

O filósofo Kierkegaard disse que se deus ultrapassa a razão humana, não será por meio desta razão que argumentaremos a favor de sua existência. Ou seja, o deísta erra ao defender sua fé com a razão, pois ele se baseia na fé: uma postura em que se aceita determinada crença como verdadeira sem discussão, crítica ou questionamento.

Conclusão: afirmar que não podemos compreender deus é mais uma falácia covarde e incoerente que não permite, de maneira alguma, que o assunto seja discutido. A ininteligibilidade de deus é o ponto final para qualquer afirmação ou negação a seu respeito. Se deus é ininteligível, ele pode ser qualquer coisa, menos o que se possa pensar a seu respeito. Ainda considerando sua ininteligibilidade, podemos então concluir que seres dotados de uma mente sã não devem dispensar sequer um segundo a respeito de tal entidade.
# posted by Delerue @ 1:16:00 AM  ::  




sexta-feira, julho 18, 2003


Porque sou ateu - Parte V - O princípio de todas as coisas

"Quanto mais aprendemos, de menos deuses precisamos. A crença em deus é somente a resposta de um mistério por outro mistério, dessa forma não respondendo nada"
(Dan Barker)

A definição clássica de deus propõe que ninguém o criou, mas que ele sempre existiu. Esse argumento é mais um daqueles falaciosos propostos pelo teístas para tentar encerrar com qualquer tipo de discussão; chega a ser um argumento covarde – assim como a suposta ininteligibilidade de deus (explicada no próximo tópico).

Esse atributo divino é primeiramente contraditório, pois se baseia na leia de causa-efeito, mas abre uma exceção justamente para si. É uma evasiva que pretende ingenuamente trazer a conclusão para dentro do próprio argumento, criando assim uma falácia de raciocínio circular. Podemos facilmente refutar esse argumento por meio da seguinte questão: se as coisas que conhecemos não podem ter surgido no nada, pode do nada ter surgido o criador delas?

Depois precisamos perceber que essa afirmação nada mais faz do que adiar inúmeras perguntas e respostas para uma entidade mais complexa que o Universo – baseando-se no princípio de que o construtor será sempre mais complexo que sua obra. Ou seja, afirmar que deus criou o Universo é adiar questões como, por exemplo, “como surgiu o Universo?” para “como surgiu deus?”. O princípio da Navalha de Occam propõe que não devemos multiplicar as entidades desnecessariamente. Ou seja, se podemos explicar alguma coisa sem supor a existência de uma outra entidade, então devemos fazê-lo.

Para exemplificar, supõe-se que você chega em casa e não encontra seu gatinho de estimação. Você considera então algumas hipóteses: 1 – seu gatinho foi dar um passeio e mais tarde deve estar de volta. 2 – um morcego faminto aproveitou a oportunidade e o devorou. 3 – seu gatinho foi roubado por um ladrão. 4 – o cachorro de seu vizinho estava faminto, pulou seu muro e mandou brasa. 5 – seu gatinho desapareceu porque deus quis. Após pensar sobre cada uma dessas hipóteses e vendo que não possui nenhuma informação, além do fato dele ter desaparecido, você deve concluir o quê? Seguindo o princípio lógico da navalha de Occam, a hipótese 1 é a mais coerente e razoável, pois ela propõe uma idéia que considera e depende de menos fatores. Se não temos indícios e nem provas para sustentar uma hipótese, então é bem lógico supor aquela que possui e depende de menos entidades. Esse é o princípio da navalha de Occam.

Pois bem, seguindo esse princípio lógico, o que é mais razoável afirmar: que o Universo, com toda a sua complexidade, fora criado por uma entidade deveras mais complexa, que por sua vez sempre existiu; ou que o Universo, com toda a sua complexidade, sempre existiu? Enquanto não encontrarmos melhores argumentos anexados de provas, ficamos com a segunda opção.

Conclusão: o argumento proposto para sustentar a idéia de que deus é o princípio único e eterno de todas as coisas é falacioso e contraditório. O mais razoável e lógico é propor que estudemos primeiro o Universo, pois, mesmo ele tendo sido construído, a complexidade do construtor é no mínimo tão grande quanto a de sua obra; e precisamos nos lembrar que sobre o Universo nosso conhecimento ainda é irrisório. Ou como disse Neal M. Stevens: "Invocar o não-conhecível para explicar o "desconhecido" é um beco sem saída intelectual".
# posted by Delerue @ 1:15:00 AM  ::  




quinta-feira, julho 17, 2003


Inteligência seja louvada

Não sei quantos já repararam que em todas as cédulas, desde o governo Sarney até hoje, há uma singela inscrição dizendo "DEUS SEJA LOUVADO". Pode parecer algo inocente ou até mesmo inútil, passando despercebido, mas o fato é que não é - não estaria ali por acaso. Pelo contrário, é muito tendenciosa tal inscrição. Vivemos num estado laico e democrático, portanto devemos exigir nossos direitos e a nossa livre expressão. Essa inscrição impõe sutilmente que todos têm a mesma crença num mesmo e único deus, desconsiderando assim aqueles que crêem em mais deuses ou aqueles que não crêem em nenhum deus, como é o meu caso.

Essa aparente inocência é causa não só de uma falsa democracia e um falso laicismo, mas da ausência de um senso crítico e de uma reflexão honesta sobre o que nos cerca. Impor a crença de um mito é prova de que não vivemos num estado coerente e honesto. E penso que isso deve mudar a todo custo.

Talvez a crença em deus não seja a causa da ignorância, mas sim o inverso. O fato é que desde pequeno somos acostumados a ver deus em todos os cantos - nas cédulas, vidros dos carros, cômodos das casas, discursos políticos, filmes, músicas etc. Um personagem folclórico que responde erroneamente questões que deveriam ser questionadas e respondidas honestamente. Esse tipo de coisa acaba acostumando a população a não pensar sobre o que a cerca - o que o estado e a mídia gostam bastante.

Da mesma forma que jogar um lixinho de vez em quando na rua parece inofensivo, mas se todos fazem acaba virando uma sujeira fora de controle - como é o Rio, por exemplo -, escrever nas nossas cédulas "DEUS SEJA LOUVADO" (em caixa alta ainda!) é um insulto a qualquer cérebro que pense honestamente. Isso é uma prova de como as idéias são impostas pelas beiradas, quase sutilmente, manipulando de tal forma que poucos se dão conta.

Pior foi o deputado (não me recordo o nome agora) que decidiu implantar dita frase (evasiva) em todos os documentos oficiais (CPF, Carteira de Identidade, Carteira de Trabalho etc) do território nacional. Por sorte um outro deputado revogou alegando que isso afetaria as demais crenças da população. E, vejam que incrível, ele ganhou. Sinal de que nem tudo está perdido.

A STR (Sociedade da Terra Redonda) está divulgando esta idéia e pede que você envie cartas aos presidentes da república, Banco do Brasil, Casa da Moeda; aos deputados e senadores, a jornais e revistas e ao Ministério Público Federal de seu estado. Sugere também que você divulgue isso ao maior número possível de pessoas. Também podemos nos manifestar rabiscando na cédula a tal frase, o que, de certa forma, está dentro de nossos direitos, já que vivemos num estado laico e democrata.
# posted by Delerue @ 5:57:00 AM  ::  




Porque sou ateu - Parte IV - A origem da afirmação

"Você não pode convencer um crente de coisa alguma, pois suas crenças não se baseiam em evidências, mas numa profunda necessidade de acreditar"
(Carl Sagan)

Baseados em que os teístas afirmam com tanta certeza a existência de deus? Alguém lhes disse – como? Leram em algum livro sagrado? Ouviram de sua sociedade? Ou concluíram individualmente? Seja qual for a origem da informação que admite que se afirme a existência divina, é preciso lembrar que devemos sempre estar atentos e considerar que a fonte, assim como a sua informação, podem estar equivocadas. A certeza absoluta é algo que deve se ter após um longo e complexo processo, mesmo que ela a princípio pareça óbvia.

A ciência muitas vezes precisa admitir um erro que pode anular muitas teorias posteriores à afirmação. Isso ocorre porque alguns cuidados não foram tomados para certificar com precisão a consistência da afirmação. Apesar de Bertrand Russel afirmar que "todo conhecimento humano é incerto, inexato e parcial”, devemos observar que alguns fatos são inquestionáveis. Por exemplo: é certo que largar uma caneta irá fazer com que ela tenda a cair no chão (a não ser que alguma outra força a impeça, mas isso já seria uma análise mais profunda, o que não é o objetivo atual). Podemos ter algumas certezas, como também que iremos morrer um dia ou que não podemos voar sem auxílio de instrumentos etc, etc. Outras supostas certezas são consideradas quando as coisas normalmente tendem a um determinado comportamento, mas não necessariamente irão sempre acontecer de tal forma, como, por exemplo, acelerar um carro normalmente faz com que ele ande, mas por algum motivo isso pode não ocorrer, ou porque a marcha não estava engatada ou porque acabou o combustível ou porque há um obstáculo na frente etc.

Resumindo: as certezas só devem existir quando são analisadas profundamente, posteriormente seguidas de argumentos sólidos e coerentes e finalmente provadas concretamente. Dizer que algo irá acontecer só porque normalmente acontece não prova que de fato irá ocorrer. Afirmar que é algo existe só porque sempre se creu ou porque a maioria crê, também não prova nada. Durante muito tempo pensou-se que os planetas e Sol giravam em torno da Terra. Da mesma forma, durante um bom tempo a maioria das sociedades mundiais considerava a mulher inferior ao homem. O tempo e a quantidade de crenças não faz delas uma verdade, absolutamente. E dizer que quem vai contra ideais antigos e numerosos é quem deve provar o que diz, é inverter mais uma vez ônus da prova, pois antes de alguém ir contra uma idéia, essa idéia precisa existir, e na sua existência é que deve haver sua confirmação (prova).

Então podemos afirmar que a caneta cai porque conhecemos a lei da gravidade. Iremos morrer um dia porque sabemos que o corpo humano, assim como tudo que conhecemos, tem uma vida útil. Não podemos voar porque não temos possibilidades físicas para tal. E assim podemos afirmar algumas coisas, porque antes de tudo observamos e analisamos cautelosamente, logo depois tentamos entender porque e como aquilo ocorre, posteriormente tentamos repetir o evento para assegurarmos nosso conhecimento a seu respeito, para só então afirmarmos “isso é assim e será assado se...”.

Por exemplo, seria possível afirmar que o avião voa sem observação, estudo, apresentação de argumentos sólidos e provas concretas? Como vimos na história, não. A idéia de que o avião pudesse voar foi alvo de muita gozação até que se provou que ele de fato voa. Só assim a humanidade passou a compreender que ele não só voa, mas que ele voa por motivos X, que podem ser facilmente explicados e provados cientificamente.

Para o ateu, a afirmação “deus existe” se parecesse muito com a antiga novidade de que o avião pode voar. Há observação, estudo, apresentação de argumentos sólidos e provas concretas para afirmar que deus exista? Sim, diria a esmagadora maioria dos teístas. Iremos então ver a seguir que esses argumentos são apenas uma prova de que a crença em deus é uma necessidade, e não um fato concreto.
# posted by Delerue @ 1:09:00 AM  ::  




quarta-feira, julho 16, 2003


Porque sou ateu - Parte III - A incoerência da afirmação (invertendo o ônus da prova)

"Se alguém apresenta uma crença positiva (por exemplo, uma afirmação que alguém alega ser verdadeira), este alguém tem a obrigação de apresentar evidências em seu favor. O ônus da prova recai sobre a pessoa que afirma a veracidade de uma proposição. Se a evidência não é contundente, se não há motivos suficientes para se aceitar a proposição, ela não deve ser acreditada. O teísta que afirma a existência de um deus assume a responsabilidade de demonstrar a veracidade desta asserção; se ele falhar nesta tarefa, o teísmo não deve ser aceito como verdadeiro".
(George H. Smith)

Antes de qualquer coisa é preciso considerar que ao fazer uma afirmação é o indivíduo que afirma quem deve provar o que diz, e não passar essa tarefa para outros ou ainda pedir que provem a inexistência de sua afirmação. A primeira opção se mostra simplista e transfere todo o problema para além do poder do indivíduo que a afirma, tornando-se uma afirmação meramente subjetiva, devendo, portanto, ser descartada. A segunda se demonstra incoerente, pois inverte o ônus da prova e desconsidera que se pode criar infinitas hipóteses que jamais poderão ser desconstruídas. Por exemplo: é possível dizer que existem seres verdes com um só olho no rosto vivendo numa dimensão paralela a nossa. Da mesma forma é possível afirmar que esses seres têm o poder de controlar e fazer o que bem entenderem com relação a cada ser individualmente que viva em nossa dimensão. Acaso alguém é capaz de provar que essa afirmação não é verossímil? Certamente não, pois a afirmação não apresenta argumentos e nem evidências a serem refutadas. Lembrando que o apelo à subjetividade não é considerado, pois não prova absolutamente nada – se algo existe, deve poder ser passível de estudo, observação e confirmação, caso contrário é descartado. Logo, fica mais uma vez claro que afirmações devem ser explicadas e provadas – todas através de métodos científicos, portanto, honestos, imparciais e palpáveis – por quem as afirma, tornando assim a possibilidade de uma proposição, antes de tudo, respeitável.

No entanto, mesmo considerando a insignificância de afirmações que não se justificam – quanto mais se provam –, pretendo demonstrar a seguir porque não é possível conceber a existência de deus como os teístas crêem existir.
# posted by Delerue @ 4:11:00 AM  ::  




terça-feira, julho 15, 2003


Aparições de Deus
Silvia Helena Cardoso, PhD

Ao longo da história da Humanidade, tomamos conhecimento de pessoas que declararam ser mensageiros de Deus. Estes indivíduos disseram ver luzes brilhantes, ouviram a voz de Deus ou mesmo do demônio, e comunicaram-se com Jesus, Nossa Senhora e anjos. Alguns deles chegaram a ser santificados.

Estas declarações são surpreendentemente semelhantes com as alucinações, ou seja, percepções de estimulação sensorial (principalmente visão e audição) quando a estimulação não está presente. As alucinações são determinadas por uma atividade cerebral aberrante, como doenças severas, cansaço profundo, ou ingestão de certas drogas, como o LSD (por isso mesmo chamadas de alucinogênicas).

No caso de graves distúrbios mentais, como a esquizofrenia, os indivíduos vêem, ouvem, ou conversam com vozes "do bem" ou "do mal". Apresentam uma deterioração mental irreversível que começa cedo na vida (aproximadamente aos 25 anos) e envolve um terrível conjunto de alterações na percepção: uma massa confusa de idéias e crenças não coerentes com a realidade. Inúmeras vidas foram tragicamente perdidas pelo acometimento desta doença. Alguns acreditam serem Jesus Cristo ou terem seu poder, e tentam, então, "andar" sobre as águas em alto-mar. Outros ouvem vozes comandando-os a subirem em prédios, e a se jogarem, para provar sua fé, como aconteceu com Jesus nas montanhas, segundo a bíblia.

Hoje, através da utilização de avançada tecnologia em neuroimagem, ou seja, a visualização do cérebro em funcionamento, é possível demonstrar que as alucinações são associadas com anormalidades cerebrais.

Um grupo de cientistas na Universidade de Londres aplicou o método PET (tomografia por emissão de positrons) para visualizar o cérebro em funcionamento de pacientes que tinham alucinações. Os pacientes tinham que apertar um botão quando imaginavam estar ouvindo vozes. O PET demonstrou que durante as alucinações são ativadas áreas cerebrais especificas do cérebro, tais como tálamo bilateral e corpos quadrigêmeos (estruturas relacionadas com visão e audição), hipocampo (relacionado à memória) área de Broca (relacionada à fala), neocortex (área relacionada à percepção e à cognição).

Ë possível supor que as pessoas que estão alucinando, estão na verdade ouvindo próprios pensamentos e não conseguem reconhecer a diferença de uma voz real. Por alterações também ocorridas nas área da percepção e cognição (neocórtex), estes pensamentos podem apresentar-se confusos e irreais.

Assim, hoje se pode comprovar que visões sobrenaturais, entre elas, as divinas e satânicas, aparecem para pessoas com alterações cerebrais. Se o cérebro daqueles indivíduos estivessem com um funcionamento normal, Deus e demônio jamais viriam incomodar aquele suposto enviado de Deus.
# posted by Delerue @ 4:29:00 AM  ::  




Porque sou ateu - Parte II - A definição

“Antes de discutirmos, defina seus valores”
(Voltaire)

Definir primordialmente os conceitos é antes de qualquer coisa evitar que a discussão termine exatamente nesse ponto, sendo, portanto, completamente inútil. Quando as idéias de dois ou mais indivíduos não batem, é comum que a discussão tenda a ser sempre conceitual, e não mais ideológica, pois já foi possível observar que essas não são comuns. É preciso então chegar em algum ponto para justificar essas diferenças. Os conceitos são os primeiros a aparecer depois de toda a discussão. Por esse motivo iremos começar definindo o conceito de deus.

A grande covardia para discutirmos deus é exatamente a sua definição. Certamente nenhuma outra entidade possui tantos e distintos atributos, o que dificulta muito qualquer abordagem sobre o assunto, pois, a princípio, a subjetividade de deus é imensa a ponto de poder ser qualquer coisa que se possa imaginar. A palavra “deus”, portanto, carece de semântica.

Ao contrário das coisas objetivas e palpáveis, como, por exemplo, um carro, que pode ser definido de tal forma que não possa haver discussões conceituais, deus é extremamente subjetivo e pessoal, variando de indivíduo para indivíduo.

Algumas definições de deus são tão distintas que chegam a anularem umas as outras. Alguns definem deus como simplesmente a fé humana, e que, portanto, existe em função da existência humana, enquanto que outros negam, dizendo que deus é uma entidade que independe da existência humana. Outros afirmam que ele criou o Universo, enquanto que outros negam, dizendo que ele é o Universo. Ainda existem aqueles que garantem que deus é um ser antropomórfico e outros mais que negam tal definição. Enfim, é possível citar inúmeras definições e contra-definições de deus.

Então o grande problema para iniciarmos qualquer discussão sobre deus é termos sua definição clara e objetiva. O que iremos fazer então daqui para frente é discutir o deus crido pela maioria dos seres humanos, o deus que está nos dicionários.

Obs.: no final desse texto, há uma seção que pretende refutar mais resumidamente algumas outras definições de deus.

Deus: princípio supremo considerado pelas religiões como superior à natureza. Ser infinito, perfeito, eterno, imutável, onisciente, onipotente, onipresente, onibenevolente e criador do Universo. Princípio supremo de explicação da existência, da ordem e da razão universais, e garantia dos valores morais.
# posted by Delerue @ 12:20:00 AM  ::  




segunda-feira, julho 14, 2003


O mundo sem o porquê

Vivemos numa época em que as idéias são prontas e descartáveis. O mundo é regido pelo o que a moda diz. Você pode ver isso quando liga sua televisão, abre uma revista, escuta rádio, lê um jornal, sai para boates e shows. As coisas tenderam a se padronizar. As idéias são prontas porque é mais fácil crer que pensar, porque um ser pensante dificilmente é manipulado, porque muita reflexão pode levar pessoas à conclusões aterrorizantes. Comprar uma idéia - que é o que a esmagadora maioria faz - é algo realmente muito bom para as grandes empresas mundiais, e aparentemente bom para quem as consome. Digo aparentemente porque a compra de idéias - e sua aceitação sem uma pré-reflexão - é algo que a princípio tapa um buraco, uma lacuna que todos precisam preencher a todo custo: o vazio de nosso Eu. Mas é claro que isso não ocorre, como você pode observar em inúmeros lugares, especialmente onde há uma considerável concentração de pessoas (shows, boates, shoppings etc), na seção de auto-ajuda nas livrarias e nos consultórios psiquiátricos. Vivemos um momento de busca frenética e desesperada por um falso ideal: a felicidade-social.

Olhe a sua volta e observe bem como esse produto fictício - e explicarei mais adiante porquê - é imposto e consumido desesperadamente por um povo que - veja a ironia da coisa - não tem capacidade para pensar sobre isso. Sim, infelizmente isso é uma bola de neve. Mas vamos analisar por partes.

O que é vendido atualmente é o seguinte: você precisa ser feliz e para tal deve seguir os seguintes passos.

1. Antes de tudo seja belo
2. Tenha muito dinheiro
3. Compre tudo o que puder
4. Seja famoso
5. Aprecie e viva o que está na moda

A felicidade-social atual é traçada desta maneira, basicamente em função de uma forma de poder. Vale lembrar ainda que o conceito de beleza - citado no item 1 - é padronizado pela própria mídia, que faz parte do sistema. A vida então, percebe-se, gira em torno da fama e do poder. Ou você é famoso ou é poderoso ou, o que é, segundo eles, melhor, os dois ao mesmo tempo. A beleza é uma forma de mover uma indústria multimilionária de cosméticos (produtos para pele, cabelos e demais partes do corpo julgadas importantes), aparelhos de academia, alimentos, revistas, programas de TV, músicas, filmes, idéias etc. Tudo isso é usado para mover um mar de dinheiro que nossa humilde existência jamais vai compreender. Perceba que o item 2 está diretamente ligado ao 1, pois para ao menos saber o que é ser belo, é preciso de dinheiro. Para ser belo então... O item 3, claro, está ligado ao 2. O item 4 já difere um pouco, pois trata de uma forma de encobrir falsamente um desejo humano: ser reconhecido.

O ser humano precisa de atenção e afeto; isso é um fato. Todos os humanos que não têm isso ou têm numa quantidade insuficiente, são pessoas insatisfeitas. Você precisa ser amado, admirado, venerado etc. Sim, isso é um instinto. Talvez suas origens tenham a ver com o medo da solidão e do vazio, mas agora esse não é o ponto. O interessante é notar que ser famoso é um status na sociedade porque move multidões. Lembre-se que vivemos numa época de quantidade (muito dinheiro, muitos amigos, muitos pertences, muitos parceiros, muitos admiradores etc, etc), onde a qualidade é avaliada pelo número de coisas adquiridas (ter posses é sempre um status). Então é lógico compreender que aquele que tem muitos admiradores, terá grande status e, segundo a regra, uma felicidade maior do que aqueles que não têm. Daí entende-se que a fama é um processo coerente dentro da lógica capitalista atual; dentro do modelo traçado pelo sistema.

O item 5 é facilmente explicado quando se compreende o item 3. Como a moda é algo extremamente volátil, ela gera uma grande circulação de dinheiro. As coisas que você compra - praticamente tudo (das suas roupas íntimas até seus CDs) - são descartáveis justamente para circular dinheiro - enriquecer as empresas. Vivemos o auge do Capitalismo. A música do ano passado é tão inútil quanto a saia que sua mãe usou com a sua idade - hoje tudo perece rapidamente. Além disso, a rapidez com que as coisas perecem tem uma relação direta com o fato disto dificultar a reflexão – que exige tempo –, evitando assim que alguém compreenda este cenário, o que obviamente seria pernicioso para o mercado.

Bom, como você pode perceber, a nossa vida é movida basicamente pelo dinheiro. Por quê? Porque dinheiro hoje significa poder, e o que o homem basicamente mais deseja é ter poder. Isso não é de hoje; sempre foi assim. O que mudou foi o símbolo do poder, que hoje é o dinheiro, mas que em épocas passadas já foi quem caçava mais animais, quem tinha mais terras, quem tinha mais mulheres etc.

Esse cenário inóspito existe e permanece graças a um instinto de sobrevivência chamado medo. Vivemos a geração do medo. Uma espécie de medo-especulativo, onde não alcançar o modelo padrão de felicidade (a felicidade-social) acarreta a marginalização do indivíduo. Ou seja: se você não segue este modelo aqui, então você não faz parte da sociedade, é inferior e deve ser ignorado. Não é à toa que você vê em academias infinitas pessoas tentando desesperadamente se moldarem ao padrão estabelecido de beleza. E não adianta questioná-las, pois elas não podem pensar; são movidos por uma emoção completamente irracional. Elas não são ensinadas a pensar, não têm tempo para pensar (tudo é fugaz e reciclado rapidamente para mover dinheiro e também para evitar questionamentos) e julgam mais prático se adaptarem ao meio do que questioná-lo. Tudo isso, é claro, é um jogo. Uma farsa que está em volta do poder, usando artifícios dos mais cruéis e perversos. Você precisa entender, essas pessoas estão tão inertes, tão dependentes desse sistema, que elas irão lutar para protegê-lo.

A falsa felicidade existe, e está em todo lugar - inclusive dentro de seu local de trabalho, de sua casa, conhecidos - quem sabe em você. A felicidade é falsa porque não leva em conta a individualidade de cada um. O padrão sempre esquece das exceções, certo? Sim, mas nesse caso o padrão foi criado em função de interesses cretinos de poder, e não um ideal que visasse o melhor bem-estar da humanidade. Com isso percebe-se que não são apenas as exceções que se dão mal nessa história, mas a grande maioria dos indivíduos. Primeiro porque alcançar o que se chama de felicidade-social é uma utopia irreal, restrita a pouquíssimos indivíduos. Segundo porque essa mesma felicidade é mudada constantemente, não bastando atingi-la uma vez, mas sim continuar numa incessante readaptação. Terceiro porque não se refere necessariamente a quem realmente é o indivíduo. Enfim, essa falsa felicidade move o indivíduo por medo. Ele tenta seguir esses passos porque é o que vê nos livros, revistas, televisão, cinema, música etc. Porque a maioria pensa assim. Tudo uma grande mentira. Podemos dizer até que seja uma espécie de conspiração. Uma conspiração contra a individualidade.

Bom, esse é o mundo em que vivemos. Não há tempo para reflexões de qualquer tipo porque as coisas são vendidas prontas e mudam rapidamente. E elas mudam rapidamente por duas razões: para os grandes enriquecerem cada vez mais (fazendo o dinheiro circular incessantemente) e para evitar que alguém reflita sobre o que acontece. Consome-se por impulso, não por necessidade real (vide o item 3). Busca-se uma suposta felicidade através de uma fórmula irreal especialmente em dois pontos: dificilmente se atinge tal conceito, e mesmo quando se atinge, percebe-se que isso não representa necessariamente satisfação (mas talvez manipulação). O medo da solidão e da infelicidade é o que move todos a agirem exatamente como deveriam agir - segundo o desejo do mercado.

Seria então você realmente você ou apenas mais número X de cifras manipuladas por algo mais poderoso que sua humilde decisão? Infelizmente não temos tempo para reflexão interna. E aqui chegamos no ponto-chave: sem reflexão você não pode saber quem realmente é, e não saber isso significa o fim da linha. Sem auto-conhecimento (não esses falsos, vendidos em seções de auto-ajuda e escritos por magos) você não é você mesma, mas uma pessoa pronta para ser uma roleta russa, regida pela aleatoriedade do acaso e/ou manipulada por quem sabe – o mercado. O mundo é feito de porquês. Sem ter o porquê, você não tem poder.

Quando não há noção do porquê, não há escolha. A escolha consciente é feita necessariamente em cima de uma causa, de um porquê. A lei da Causalidade. Sem isso você não tem escolha, mas pensa ter. Essa escolha então é uma ilusão criada por aqueles que têm poder para manipular os que não têm. Você sente antes de pensar, e se esse sentimento for o medo (como é o pregado pelo sistema), então em breve o porquê e a razão vão embora, e tudo o que importa é apenas o sentimento – o medo. E isso é a natureza do nosso mundo. Nós brigamos contra isso, nós lutamos para negar isso, mas num fundo remotamente obscuro e escondido sabemos que é verdade. Fingir é uma mentira, e por baixo de nosso aparente equilíbrio – a falsa felicidade –, a verdade é que estamos totalmente fora de controle – somos manipulados. Causalidade, não há como escapar disso; seremos sempre escravos dela. Nossa única esperança é tentar entender o porquê. O porquê é o que separa o sistema de seus escravos. O porquê é a única fonte real de poder, sem ele você é fraco, não tem opção de escolha.

Então repito: até que ponto somos o que achamos que não somos? Até que ponto não somos o que achamos que somos? Desconecte-se do mundo por um tempo e pense honestamente sobre isso. Eis a chave que abre a escolha: a reflexão.

Rafael Delerue
Julho de 2003
# posted by Delerue @ 6:25:00 PM  ::  




O escravo da leitura

O escravo da leitura é aquele sujeito que ao invés de usar a leitura para expandir sua linha de pensamento, é usado por ela, que comprime seu pensamento. É o indivíduo que deixa a leitura pensar por ele, ao invés de pensar sobre o que lê. Essa pessoa normalmente termina de ler e dificilmente sabe o que pensa sobre. No máximo ela repete as palavras lidas, assimilando então uma idéia que nem mesmo sabe se concorda.

Sei que pode parecer estranho, mas esse tipo de gente está cada dia mais numerosa - é assustador comprovar isso! O turbilhão de informações que a Globalização cada dia que passa traz mais e mais, está alienando a sociedade. Não muito diferente ocorre com a música (que hoje tende a escutar a pessoa, não inverso), notícias (são tantas que o indivíduo vive para elas), conhecidos (cada dia se conhece mais pessoas e as entendem menos) etc, etc. A alienação também pode ser alcançada através de veículos que a princípio poderiam eliminá-la, o que não deixa de ser uma ironia.

Talvez isso ocorra por uma questão de status - "quem lê mais, é mais inteligente" - ou por uma questão de fuga da realidade. Mas não importa, a alienação existe até onde moram seus inimigos (a leitura, filosofia, ciência etc). A solução para esse problema é muito complexa, pois necessita de pré-requesitos pouco divulgados e a princípio pouco interessantes para a maioria. A ausência do questionamento é a principal causa deste problema.
# posted by Delerue @ 6:23:00 PM  ::  




Ok, ninguém pediu, mas admito que nenhum ateu que se preze deve esquecer de explicar detalhadamente porque é ateu. Inauguro aqui então a seção "Porque sou ateu" (dedicada à Priscilla Barbin, minha amiga sumareense), onde irei diariamente expor os argumentos pelos quais defendo o ateísmo e ataco o teísmo. Hoje irei deixar apenas a introdução.

Porque sou ateu - Parte I - Introdução

"Enfim, tire-se de um homem simples e honestamente religioso a crença em deus e a esperança de uma vida eterna, e então perguntemos: o que lhe resta senão medo, sofrimento, desespero e impotência? Em geral, tais indivíduos não têm escolha – acreditam por necessidade. Eles precisam que suas crenças sejam verdadeiras, precisam torná-las inabaláveis por uma questão de autopreservação – sem um deus seu mundo entraria em colapso. Ademais, a dor de abrir os olhos depois de uma vida inteira na escuridão é de tal modo excruciante que poucos são capazes de fazê-lo – e este abrir os olhos não é para uma realidade agradável e bela, mas antes de tudo dura, áspera, árida e sórdida. E mesmo aqueles que não têm uma vida de sofrimento, vivem como prisioneiros que, tendo passado a vida inteira numa confortável cadeia ideológica, agora sentem horror e angústia ante a liberdade – por isso nunca chegam a superar a fantasia pueril de um “papai cósmico” que olha por eles".
(André Cancian)

Venho por meio deste texto me dirigir àqueles que ainda não definiram uma posição em relação a deus ou porque ainda não tiveram oportunidade de pensar a respeito ou porque julgam necessário bons argumentos para levarem sua escolha à frente. Também me dirijo aos deístas, que insistem em defender a existência divina com uma aparente lógica, que, como veremos no decorrer do texto, não passa de consecutivas falácias.

É preciso enfatizar que meu texto não foi dirigido, de maneira alguma, àqueles que julgam, acima de qualquer coisa, necessário a existência de um pai protetor para lhes dar uma explicação para suas perguntas fundamentais, tais como: Quem sou? De onde vim? Para onde vou? Qual a razão da minha existência? Enfim, um sentido para a vida. O uso da emoção, para a ciência, é desconsiderado, pois não tenta, definitivamente, retratar uma realidade palpável e mensurável, mas apenas suprir necessidades individuais e subjetivas.

Pretendo utilizar o que diferencia os seres humanos dos demais animais, ou seja, o consciente, a razão, a lógica, o pensamento; de maneira alguma o inconsciente, a emoção, o instinto e demais subjetividades. Os seres humanos são diferentes dos demais animais por poderem pensar sobre o que os cerca. Se não for utilizado o pensamento, então não se chegará a descoberta alguma e qualquer coisa dita será válida. Serei, portanto, um ser humano – racional – para tentar analisar o que nos cerca de forma honesta e imparcial.

Para explicitar a importância do pensamento investigativo e lógico, dou o seguinte exemplo: uma pessoa um dia diz para a outra ”jamais olhe para o chão, pois você irá ter uma péssima surpresa”. O que um indivíduo sem um pensamento científico faria diante tal situação? Certamente iria ser indiferente ao aviso, agindo como se nada tivesse ocorrido ou então (digamos, um crédulo) iria aceitar a sugestão sem nenhum questionamento. O que um indivíduo com um pensamento científico (um cético) faria diante tal situação? Certamente iria questionar e investigar a afirmação. Sim, pois o cético, sempre usando a razão para avaliar as coisas, pretende compreender o que o cerca. Uma afirmação ouvida por este indivíduo precisa ter um sentido, um significado, uma explicação; precisa de coerência e empirismo, senão será desconsiderada. Ou seja, se quem afirmou não consegue explicar por que exatamente não se deve olhar para o chão, o cético jamais irá levar aquele aviso adiante, desconsiderando-o e interpretando a afirmação como uma evasiva.

O pensamento nada mais é que uma ferramenta para se analisar acontecimentos e idéias, em invés de somente negá-las ou, o que é pior, aceitá-las. Se o pensar é descartado, não há sentido para abordar qualquer acontecimento ou idéia; a subjetividade validaria qualquer coisa. Ademais, sem saber o porquê não temos controle sobre absolutamente nada. O mundo sem o porquê está à mercê do acaso - que é a ausência do poder – ou de quem o sabe. O cético, portanto, é alguém que não deseja se iludir (ou ser iludido), mas sim descobrir a verdade sobre o que o cerca, duvidando – e não, como muitos pensam, negando – antes de aceitar uma idéia que não conhece.

Portanto, se seu discurso/crença é puramente emocional, não será possível a compreensão do que se segue. Sugiro então que pare por aqui, pois será um tempo jogado fora, totalmente em vão.

Dirijo-me então àqueles que pretendem (através do pensamento lógico e do empirismo, ou seja, da ciência) compreender porque ainda não se pode afirmar a existência de deus(es) – seja(m) ele(s) qual(is) for(em). O que pretendo aqui é apresentar argumentos sólidos que derrubam as explicações falaciosas que os teístas costumam apresentar para defender a idéia de deus.
# posted by Delerue @ 2:50:00 AM  ::  




domingo, julho 13, 2003


Recebi de um amigo virtual esse texto do Diogo Mainardi, que escreve pra Veja. O cara é quase um iconoclasta, hehehe.

Menos deus, por favor

"O Brasil tem deus demais. Tem deus
no futebol, nos vidros dos carros, na TV,
no rádio, nos hospitais, nas salas de aula,
na reforma agrária, na política. Em nome
de deus, qualquer um pode enfiar a mão
no bolso dos outros"

Atletas de Cristo. Eu torço contra. Deveria ser proibido comemorar um gol mostrando camisetas com mensagens evangélicas. Os alemães concordam comigo e não permitem o proselitismo religioso nos campos de futebol. Quem desobedece é punido. Uma camiseta com um simples "Deus é fiel", ou "Jesus vive e me ama", ou "100% Jesus", rende uma suspensão equivalente à de uma cotovelada no septo nasal do adversário. O atacante brasileiro Cacau, do time do Nuremberg, burlou as regras do campeonato alemão inscrevendo em sua camiseta um alusivo "J...". É o mesmo estratagema adotado por fabricantes de cigarros para anunciar em corridas de Fórmula 1. Cacau equiparou Deus a um maço de Marlboro. Passei a torcer contra ele. Para minha felicidade, seu time acaba de ser rebaixado para a segunda divisão.

Kaká, como Cacau, também usa todos os meios para difundir sua fé. Tem uma pulseira com o nome de "Jesus". Sua secretária eletrônica se despede com um "Deus te abençoa". Seu autógrafo vem acompanhado pela frase "Deus é fiel". Em sua chuteira está escrito, novamente, "Deus é fiel", só um pouquinho menor que o logotipo da Adidas. Quando marca um gol, ele ergue os braços para o céu e proclama "Deus é fiel". Kaká é o homem-sanduíche de Deus. Ou melhor, o homem-sanduíche da Igreja Renascer em Cristo. Algum tempo atrás, ele bateu a coluna ao mergulhar numa piscina. Deus, por intermédio da Igreja Renascer, livrou-o de ficar paraplégico. A Igreja Renascer pertence ao compositor gospel Estevam Hernandes, autor dos memoráveis versos apocalípticos "Extra Extra / O mundo acabará / Amanhã de manhã". Estevam Hernandes, que se definia como bispo, elevou-se humildemente à condição de apóstolo. Um dia ele ainda vira santo. Fernando Henrique Cardoso concedeu-lhe catorze rádios FM e dois canais de TV, mas nas últimas eleições ele pediu votos para Lula. Até o ano passado respondia a mais de cinqüenta processos na Justiça, juntamente com sua mulher, a bispa Sonia. Torço contra Kaká. Vejo com satisfação que seu futebol piora a cada dia que passa.

Os alemães implicam com os Atletas de Cristo porque acreditam que a ostentação de um deus pode ofender aqueles que cultuam outros deuses e aqueles que não cultuam deus algum. A legislação alemã é muito restritiva em relação às religiões mais agressivas na arregimentação de fiéis. A distância que separa conversão e coerção, para eles, é mínima. A Bélgica é ainda mais severa. Os grupos religiosos incluídos na categoria de seitas sofrem uma série de limitações, dos adventistas do sétimo dia aos mórmons, da Opus Dei à Associação Cristã de Moços. O país mais rigoroso no tratamento reservado aos cultos religiosos, porém, é a França. É o contrário do Brasil. O Brasil tem deus demais. Tem deus no futebol, nos vidros dos carros, na TV, no rádio, nos hospitais, nas salas de aula, na reforma agrária, na política. Qualquer um pode atribuir-se milagres em nome de deus. E, em nome de deus, qualquer um pode enfiar a mão no bolso dos outros. Precisamos de menos deus.

Por Diogo Mainardi
Fonte: http://veja.abril.uol.com.br/110603/mainardi.html
# posted by Delerue @ 3:23:00 PM  ::  




Ultimamente tenho ouvido muito, especialmente de pessoas mais próximas, que não existe nada mais chato (alguns dizem até "irritante") que uma pessoa presunçosa, que se considera a dona da verdade. Quem reclama disso faz com fervor e convicção, o que obviamente já é uma prova da auto-contradição do argumento.

Isso sem considerarmos que quando se diz que não se deve ter a presunção da verdade, se está sendo hipócrita, pois tudo o que pensamos e dizemos com sinceridade é porque acreditamos ser verdade.

O indivíduo que afirma ser incoveniente quem presume saber a verdade é, portanto, uma pessoa que não aceita a coragem de quem expressa sua opinião honesta e abertamente. Esse indivíduo é falso em se esconder atrás de suas opiniões, obviamente consideradas por ele verdadeiras; talvez por medo de vê-las sucumbir com possíveis contra-argumentos.
# posted by Delerue @ 12:13:00 AM  ::  




sábado, julho 12, 2003


A inversão da rebeldia
"Timendi causa est nescire - A causa do medo é a ignorância" - Seneca

O que nós céticos mais costumamos ouvir de crentes é de que somos pessoas rebeldes e de mal com a vida, que fracassaram e usam essa mágoa para expressar idéias contrárias às vigentes. Normalmente tentam associar o ceticismo com a idade; se somos novos é porque ainda somo novos, e, portanto, rebeldes por natureza (?), se somos velhos é porque estamos ranzinzas ao vermos nosso fim mais próximo. Enfim, aquelas famosas falácias ad-hominem que simplesmente não dizem nada, mas apenas atacam a pessoa, ao invés de seus argumentos.

Interessante notar não só a presença de falácias nesse tipo de discurso, mas uma cara-de-pau (não encontrei outra expressão) inversão. O teísta inverte a posição de rebeldia, pois na verdade é ele que se rebela contra a realidade, contra a dura constatação de que não temos sequer UMA evidência da existência de qualquer tipo de deus (é impressionante como essa palavra carece de semântica - um apelo maravilhoso à subjetividade, claro). O medo de não respondermos as questões fundamentais ou termos como mais provável a nossa insignificância diante do Universo leva o teísta a crer numa "consciência cósmica" (ouvi esse termo ontem no Globo Repórter, não é incrível?). Não importa se por medo da dúvida, do mais provável ou por pura ignorância e compra de idéias; o teísta faz uso do escapismo quando aceita a insana idéia de um deus (ou deuses) criador.

O ateu, ao contrário, aceita a realidade. Ele* não crê que não existe - como qualquer cético** -, mas descrê por simples ausência de motivos/provas. O ateu é honesto em afirmar que não pode aceitar a idéia de deus (apresentada até então), porque ele entende que tal idéia se auto-aniqüila na sua própria definição e não apresenta qualquer indício empírico que demonstre sua veracidade.

* O ateu cético
** Me refiro ao ceticismo científico. Quanto ao ceticismo pirrônico, deixo para um próximo post.
# posted by Delerue @ 1:16:00 PM  ::  




Para estreiar o blog, vou comentar sobre o Globo Repórter que acabei de assistir.

A Globo está de parabéns no quesito pior programa de conteúdo documental. O Globo Repórter é aquele tipo de programa que termina e você não consegue extrair nenhuma conclusão ou idéia nova; o que, aliás, não foge nada do padrão Globo de abordagem...

O programa em questão se propunha a abordar o tema "As religiões no Brasil". Começou falando da Umbanda, mas sequer se preocupou em contar um pouco da história da religião. O espectador se sente um imbecil por não poder avaliar o que está vendo. Não só por falta de informações, mas também por não haver em nenhum momento (!) a opinião de um cético.

Logo depois vemos uma mulher que trocou seu nome por "sabedoria" em indiano. Uma neo-budista. A moça trocou sua vida para viver e seguir os passos de um suposto mestre indiano, que por sua vez deve ter se baseado em um outro, que se baseou em um outro... até chegarmos no Buda. Ela falou da fé não muito diferente das crianças entrevistadas mais a frente. Impressionante como desde pequenas as crianças já têm suas mentes perfeitamente "lavadas" para aceitar a insana idéia de uma entidade onipresente, onisciente, onibenevolente etc. Não é à toa que o meme divino é um dos mais difíceis de se livrar.

No final do programa vemos uma pagadora de promessas que jura ter sido ajudada por uma santa quando seu filho estava prestes a morrer. Nessa e em todas as outras partes do programa (tinha religião que até idolatrava o Raul Seixas!) não vemos nem uma sombra de ceticismo; não só dos entrevistados, como da produção do programa.

Mas a pérola mesmo foi o sujeito que disse não ter casado, mas feito um pacto de amor. E, segundo ele, "pacto é diferente de casamento, porque no casamento você casa, descasa, casa de novo... Pacto, não. É uma palavra mais forte, é algo que dura para sempre". E vá dormir com um barulho desses...
# posted by Delerue @ 12:45:00 AM  ::  




sexta-feira, julho 11, 2003



É com enorme prazer que criamos esse blog para podermos discutir sempre que pudermos as inúmeras questões que estão em volta desse tema tão badalado, que é deus.

Tentaremos ao máximo manter nossos posts claros e sempre honestos; sem distorções ou apelações. Pretendemos abordar o assunto com seriedade, mas com bom-humor.

Iremos relatar acontecimentos pessoais e alheios que envolvam a presença dessa idéia, que, como gostamos de definir, não passa de uma histórica folclórica. Assim como também iremos discorrer sobre idéias e pensamentos livres sobre o assunto. A idéia principal do blog é questionar a crença em deus e as conseqüências desse ato.

Bom, e é claro, vocês irão ficar à vontade para comentarem e sugerirem o que bem entenderem, pois esse é um espaço aberto para o livre-pensamento.

Então é isso aí!
Agradecemos a visita e esperamos que daqui saiam grandes reflexões e novas idéias, sempre honestas, desinteressadas e íntegras intelectualmente.
# posted by Delerue @ 6:01:00 PM  ::