Nos bastidores da fé

Blog de crítica ao teísmo, em defesa do racionalismo e da ciência. Pretende abordar assuntos sob o tema "deus" e suas idiossincrasias.


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domingo, agosto 31, 2003


A partir de agora a seção "Porque sou ateu" irá tratar de desconstruir algumas falácias clássicas que pretendem defender a idéia de deus.

Porque sou ateu - Parte XII - Falácias divinas - Parte I

Falácia: qualquer enunciado ou raciocínio falso que, entretanto, simula veracidade.

Os argumentos teístas formulados para defender a existência de deus são inúmeros, e desde muito tempo essas idéias são registradas e citadas pelo mundo afora. Grandes nomes da História já deixaram alguns desses argumentos, dentre eles, São Tomas de Aquino – “O ser necessário” –, Blaise Pascal – “A aposta de Pascal” –, William A. Dembski – “O design inteligente” – e outros.

Neste capítulo será explicado porque tais argumentos não devem ser levados em conta, demonstrando assim que são todos, sem exceção, meras simulações de um raciocínio lógico e verdadeiro.

O que é mais notável nessas tentativas de defesa é a constante presença de analogias. Como a idéia de deus não possui nenhum tipo de lógica e comprovação, os teístas tentam “facilitar” a explicação com comparações a certos elementos de nossa realidade. Mas se esquecem que fazer analogias é algo extremamente delicado, pois envolve conhecimento profundo sobre o que se pretende demonstrar e sobre o que se compara, para assim não confrontar erroneamente coisas inteiramente diferentes, abrindo margem para inúmeros erros.

A ciência, por outro lado, consegue demonstrar tudo o que sabe para qualquer pessoa (eliminando assim a subjetividade) e sem o uso de analogias (evitando as inúmeras falácias que serão vistas e explicadas a seguir). O mais sensato seria explicar concretamente o que se deseja, deixando as analogias apenas para o caso de dificuldades de compreensão – e não a perda de argumentos.

Peço licença ao caro Edmílson Bento da Silva para fazer uma pequena adaptação de sua obra “Argumentos referentes à existência de deus”, que será mostrada a seguir.

Os teístas, religiosos e crentes armam-se de inúmeras e supostas provas e argumentos para tentar sustentar a existência de um ser supremo. Tais argumentos são falaciosos, pois não possuem veracidade alguma. Em sua grande maioria são facilmente desmascarados. Podemos dividir esses argumentos – supostas provas – da seguinte forma:

1. Provas subjetivas.
2. Provas cosmológicas.
3. Provas ontológicas.
4. Provas morais.

1- Provas Subjetivas.

As provas subjetivas da demonstração da existência de um ser supremo são os argumentos mais fracos de toda a coleção de provas, porém, pessoas desarmadas de senso crítico geralmente aceitam-nas como convincentes.

1.1 - Argumento da revelação. Utilizada como prova a favor da existência de deus, o argumento baseado na experiência pessoal e imediata é um argumento fraquíssimo, consiste em admitir que:

Há uma inteligência perfeitíssima e sublime que
transcende qualquer explicação, e que escapa à compreensão
humana, mas se revela por meio da intuição, do estado da graça,
da beatitude e fé.


O argumento é fraquíssimo porque:

a. experiências subjetivas só podem revelar à pessoa, mas não à coletividade;

b. o argumento nada diz a respeito da natureza da fonte da revelação transcendente, ou seja,
não há certeza se é realmente algo divino;

c. as experiências subjetivas dependem muito da crença e das referências culturais as quais o indivíduo está submetido, e muito menos de circunstâncias objetivas;

d. como as experiências subjetivas lidam com emoções e sentimentos, a própria pessoa não tem controle e certeza sobre tais fenômenos;

e. há explicações alternativas para estes fenômenos, tais como a psique despreparada em busca de auto-ajuda, a auto-sujestão, a mentira inconsciente, a ilusão enganosa de uma má observação e a charlatanice.
# posted by Delerue @ 8:58:00 PM  ::  




sábado, agosto 23, 2003


Passei os últimos dias muito ocupado e mal, por isso peço desculpas pelo abondono. Mas para a felicidade de todos, a seção "Porque sou ateu" ainda não acabou. Vamos lá!

Porque sou ateu - Parte XI - O suposto livre-arbítrio divino

É inegável que o deus descrito pelos teísta possui livre-arbítrio para fazer o que bem entender com sua obra. Mas fica claro perceber o quão contraditória é tal afirmação, visto primeiramente que deus é perfeito e imutável, não podendo, portanto, optar por nada. Além disso, ele é onisciente e onipresente, ou seja, já sabe de tudo o que vai acontecer, inclusive com si próprio. Ele é, por dedução, uma entidade pré-programada, seguindo apenas o que já sempre soube que iria fazer, não podendo então jamais mudar de idéia.

Conclusão: nada que seja perfeito, portanto, imutável, pode decidir alguma coisa. A imutabilidade nega a decisão e, por conseguinte, o livre-arbítrio.
# posted by Delerue @ 1:43:00 PM  ::  




terça-feira, agosto 19, 2003


E mais uma vez comprovamos o quão bitolada é a Igreja e o seu patrão. É sem comentários...

Vaticano se opõe à união de homossexuais

Em um documento oficial que será divulgado na próxima quinta-feira, o Vaticano se opõe firmemente à legalização da união entre os homossexuais e vai solicitar aos políticos católicos de todo o mundo que votem contra as leis que favorecem tais uniões. O texto, elaborado pelo cardeal alemão Jospeh Ratzinger, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, diz respeito apenas às uniões de homossexuais.

De acordo com o padre Ciro Benedettini, porta-voz adjunto da Santa Sé, este é um documento de poucas páginas, que não contém nada de novo em relação à posição oficial da Igreja sobre a união dos homossexuais. O Vaticano é contrário às leis que protegem e garantem a união dos homossexuais.

Vários países de maioria católica já adotaram leis que regulamentam a união entre os homossexuais, incluindo a França e algumas regiões autônomas da Espanha, o que preocupa a hierarquia da Igreja. Em maio, o governo da cidade de Buenos Aires aprovou a união civil de gays e lésbicas, o que fez da Argentina o primeiro país da América Latina a igualar os direitos dos casais homossexuaias aos dos heterossexuais.

Em janeiro passado, o Vaticano divulgou um documento, também preparado por Ratzinger, com o título "Nota doutrinal sobre certos assuntos que afeta a participação dos católicos na vida pública", no qual recomendava aos parlamentares católicos de todo o mundo que se posicionassem publicamente contra tais leis. "As uniões entre homossexuais são nocivas para o correto desenvolvimento da sociedade humana, sobretudo se seu peso efetivo aumentar no tecido social", afirmou o cardeal Ratzinger ao abordar o tema.

Fonte: Terra Notícias - http://noticias.terra.com.br/mundo/interna/0,5502,OI125161-EI312,00.html
# posted by Delerue @ 9:22:00 PM  ::  




domingo, agosto 10, 2003


# posted by Delerue @ 2:43:00 PM  ::  




sexta-feira, agosto 08, 2003


Porque sou ateu - Parte X - O perfeito não pode construir o imperfeito

“A natureza é bela, o Universo é grandioso. E eu admiro apaixonadamente – tanto o que mais admiro – os esplendores e as magnificências que nos oferecem estes espetáculos incessantes. Mas, por muito entusiasmado que eu seja das belezas naturais, e por grande que seja a homenagem que eu lhes tribute, não me atrevo o afirmar que o Universo é uma obra sem defeitos, irrepreensível, perfeita.”
(Sebastien Faure)

Quando observamos o mundo em que vivemos podemos notar inúmeras imperfeições. As doenças, como o câncer e a AIDS, as tragédias naturais, como furacões e terremotos e as colisões e explosões de astros são apenas alguns dos inúmeros exemplos de imperfeições existentes. Inclusive nós humanos somos imperfeitos; temos milhares de mazelas que independem de nossa vontade/atitude.

O argumento de que deus é perfeito é facilmente refutável com uma observação, por mais superficial que seja, seguida de uma conclusão baseada na própria definição de perfeito. Vejamos então: deus, sendo perfeito, não pode cometer erros – por definição. Sua obra é imperfeita – por observação –, logo deus não pode ser perfeito.

Além disso, temos que considerar que a perfeição divina se contradiz com a necessidade de um deus como coordenador do Universo. Se tal entidade perfeita construiu o Universo, que por definição deveria ser igualmente perfeito, então não haveria mais sentido em coordená-lo, pois algo perfeito é plenamente independente. Se deus administra sua obra, então isso significa que no ato da construção nem tudo foi planejado, revelando assim uma incompetência divina, fato este que vai não só contra sua suposta onisciência, como também contra sua suposta perfeição.
# posted by Delerue @ 8:46:00 PM  ::  




quarta-feira, agosto 06, 2003


A seção "Porque sou ateu" não morreu! Aos poucos (realmente beeeem aos poucos) vou dando continuidade. Mil desculpas pela demora.


Porque sou ateu - Parte IX - O problema do mal

"Será Deus incapaz de prevenir nossos sofrimentos, não sendo, portanto, onipotente? Ou pode preveni-los e não o quer, não sendo, pois, compassivo e justo?"
(Walter Kaufmann)

Recapitulando vemos que deus, além de onipotente, onipresente e onisciente, é infinitamente bondoso. A existência de todo o mal é geralmente pregada pelos teístas como algo meramente humano, desconsiderando assim os fenômenos naturais. Algumas outras doutrinas, como o judaísmo, por exemplo, partem do princípio que o mal existe antes do homem e que a sua missão aqui é ajudar o bem a vencer. Vejamos porque tais afirmações se apresentam incoerentes.

Diz-se que deus é o construtor onisciente de todas as coisas. Quando se pergunta: então ele também construiu o mal? A reposta certamente será: não, o mal é construção das suas criaturas – já que ele é o construtor de tudo. Tal argumento se apresenta contraditório com a idéia proposta no início, pois sendo deus o construtor onisciente, ou seja, infinitamente ciente de tudo, inclusive do futuro, ele já saberia de antemão que suas criaturas iriam construir o mal, tornando-o a princípio o construtor indireto do mal, o que bate de frente com sua bondade infinita. Ou seja, sendo deus o construtor onisciente de todas as coisas, ele também é construtor do mal; se não é construtor do mal, então não é onisciente.

O filósofo Epicuro, em épocas remotas – antes mesmo de Yeshua sonhar nascer –, já se mantinha ocupado e atento em relação às contradições que a existência divina pressupunha. Segue o pensamento lógico por ele concluído. “Deus, ou quer impedir os males e não pode, ou pode e não quer, ou não quer nem pode, ou quer e pode. Se quer e não pode, é impotente, o que é impossível em deus. Se pode e não quer, é invejoso, o que do mesmo modo é contrário a deus. Se nem quer nem pode, nem sequer é deus. Se pode e quer, que é a única coisa compatível com deus, donde provém a existência dos males? Por que razão é que não os impede?”. Tal pensamento pode ser resumido da seguinte maneira:

1. Se existisse um deus – onipotente e infinitamente bom – não haveria mal no mundo – por definição;

2. Há mal no mundo – por observação;

Logo,

3. Não pode existir tal deus.

Conclusão: com a afirmação de que deus é onipotente e infinitamente bondoso, fica inexplicável a existência do mal. As duas definições são paradoxais, contradizendo-se com a observação, pois ou deus não tem o poder suficiente para acabar com o mal, não sendo, portanto, onipotente, ou porque não deseja acabar com o mal, não sendo, portanto, infinitamente bondoso, mas sádico.
# posted by Delerue @ 11:00:00 PM  ::  




terça-feira, agosto 05, 2003


E cá está minha resposta:


Caro Gilberto,

Recentemente li sua matéria intitulada "Com Deus ou sem Deus?" e confesso que fiquei muito surpreso.

Interessante notar que não só você, mas ultimamente a esmagadora maioria dos indivíduos que cruzo tendem a querer falar sobre o que não fazem noção. O que me leva ao ponto principal de seu texto: você não faz a menor idéia do que seja o ateísmo - por mais que demonstre ter certeza saber -, e vou lhe mostrar por que, caso tenha humildade para me ouvir realmente.

Vamos começar desde o comecinho, explicando o lugar da lógica - que você também demonstra não conhecer. Então aqui vai uma pergunta: Do que um argumento precisa para ser convincente? Coerência, lógica e provas; respondo de antemão. Por exemplo: se eu lhe disser para jamais olhar para o chão, pois isso irá lhe trazer uma péssima surpresa, o que você pensaria/faria? Se estou falando com uma pessoa no mínimo razoável, então temos que admitir que a princípio você não iria levar minha afirmação a sério. Por quê? Porque eu simplesmente soltei uma evasiva, não dizendo, portanto, nada. A minha afirmação é vazia não só de coerência e lógica, mas de provas. Se eu explicasse para você que não se deve olhar para o chão porque li isso num livro milenar, ainda assim você não teria motivos para levar minha afirmação adiante. Mas se eu explicasse para você com lógica e provas por que não se deve olhar para o chão, então você poderia levar minha afirmação adiante.

O que acontece no debate entre teístas e ateus é o seguinte: o ateu usa a razão e a lógica para argumentar, enquanto o teísta usa o subjetivismo e divagações para tentar sustentar seus precários argumentos. Como já disse antes, a lógica é necessária para que se passe uma idéia adiante. Quanto um indivíduo apela para a subjetividade, o que ocorre é que somente ele pode compreender o que diz - baseado no próprio argumento deste indivíduo. A lógica se apresenta mais razoável e honesta porque explica para qualquer indivíduo o porquê de sua afirmação. A lógica é comprovada. A subjetividade, ao contrário, não responde e nem explica nada, mas apenas deixa um ar de mistério superior. Você jamais vai levar em consideração afirmações evasivas, absolutamente. Simplesmente porque elas não se justificam e nem se provam. Um exemplo real: quando o mundo estava em volta da invenção do avião, muitos não acreditavam que aquilo fosse verdade. Por quê? Porque simplesmente não tinham motivos para crer que fosse verdade; talvez porque não tivessem condições de ter acesso às explicações e ainda carecessem de provas - claro! Bom, somente depois do homem voar é que o mundo todo passou a compreender que aquilo era possível por razões X, perfeitamente provadas e explicadas através da lógica, assim chamada de ciência.

Ok. Agora que você entendeu a importância da lógica para poder se propagar uma idéia, vou explicar o que o teísta faz. O teísta, como o próprio nome já diz, afirma a existência de deus. Como um ser dotado de cérebro, pergunto antes de crer - claro: Por que deus existe? Que motivos tenho para levar tal afirmação adiante? Quais são os argumentos que sustentam essa afirmação? E as provas? Etc, etc. O que o teísta faz - todos, sem exceção - é tentar explicar inicialmente com uma suposta lógica (composta basicamente de falácias dos mais variados tipos), que quando demonstrada pelo cético ser falha, logo se transforma em subjetividade para sair assim da discussão com um aparente ar de superioridade e razão. Os teístas não conseguem provar o que dizem por meio da lógica, o que obviamente nos leva a desconsiderar sua afirmação.

O ateu, ao contrário do que você afirma, não é alguém que tem raiva, rancor ou até mesmo medo de deus. O ateísmo também não possui nenhum vínculo com qualquer outra coisa (política, moral, gosto por arte etc), senão o fato de não considerar a existência de deus. A palavra ateu diz simplesmente que o sujeito não crê em deus. O ateísmo não é uma crença, pois além de não afirmar nada (mas apenas não crer), ele demonstra o porquê de sua existência. O ateu (o coerente, por favor) adoraria que os teístas ou provassem o que afirmam ou parassem de afirmar o que não provam. É muito simples: "Parai de afirmar que cessarei de negar". "Sem evidências, sem crença". O ateu não vê sequer UM motivo para levar a idéia deus adiante, pois essa idéia é incoerente, ilógica, falaciosa e - obviamente - não se prova.

Os agnósticos - que normalmente são ateus inconscientes -, não respondem se crêem ou não em deus. Quando pergunto se você acredita em unicórnios azuis, você só tem duas opções: ou crê ou não crê. Você não é agnósticos de unicórnio, fada, duende, coelhinho da páscoa, papai noel, dragão etc. O agnóstico (de deus) é ateu porque ele afirma que não conhece a existência divina (claro!), o que nos remete à seguinte conclusão lógica: se não sei da existência de algo, não posso falar desse algo e tampouco posso afirmar sua existência. Assim, é fácil concluir que o agnóstico não responde diretamente a pergunta que lhe é feita, mas deixa isso (na ESMAGADORA maioria das vezes inconscientemente) implícito. O agnóstico não tem motivos para crer em deus, sendo, portanto, ateu.

Citando você: "mas não temos como sufocar no mais íntimo de nosso ser a palpitação da religiosidade, aquele pressentimento de que o mundo transcende os limites do nosso conhecimento científico e a suspeita de que não estamos sós no universo".

Ok. Pode até ser que o Cosmos transcenda os limites do nosso conhecimento científico e que todos (o que não é verdade, mas enfim) nós suspeitamos (por puro bom-senso, mas sem certezas) não estarmos sós na imensidão do Universo. O que acontece aqui é uma falha de raciocínio, pois considerar uma idéia não significa estar certo dela (mesmo porque nem mesmo temos como comprovar). O ateu pode estar plenamente ciente de que seu conhecimento a cerca do Universo seja irrisório e que o método na qual ele se baseia (o científico) não seja cabal. A pergunta aqui é: se o método científico não é 100% eficaz, então você pode primeiramente provar isso e então tentar apresentar um melhor método de compreendermos o Cosmos? Tudo o que temos hoje (desde a roda até tecnologia digital; enfim, toda a sua vida) se deve aos estudos da ciência, que usa, antes de tudo, a lógica.

Vou deixar aqui um texto que explica por alto a posição do livre-pensador. Espero que tenha humildade para reconhecer as bobagens (nem todas citadas e explicadas por mim) ditas no seu tolo texto.

Rafael Delerue
---------

[para não ficar um post gigante, vou linkar pro texto sobre o livre-pensador]

http://www.str.com.br/Atheos/livre-pensador.htm
# posted by Delerue @ 8:21:00 AM  ::  




domingo, agosto 03, 2003


O sumido volta novamente para mais um insano post. :o)

O texto a seguir foi publicado no jornal Estado de São Paulo já tem um tempo, mas só me lembrei de postar agora. Eu e mais alguns amigos já mandamos e-mails para o autor e até mesmo para o editor do jornal, mas jamais recebemos uma resposta. Amanhã irei postar a minha resposta. Com vocês o absurdo:

Com Deus ou sem Deus?
GILBERTO DE MELLO KUJAWSKI


Rabindranath Tagore, místico hindu, foi um personagem impressionante, meio poeta, meio santo. Sua presença exalava uma tranqüilidade sobrenatural.

Nas palavras de um biógrafo, relatando as conferências que deu na Inglaterra, "parecia ter o poder de converter um aposento ordinário, uma casa londrina, uma classe acadêmica, uma reunião popular, no veículo de sua serenidade indiana".

Autor fecundo, seu tema era único, um só e o mesmo: Deus. O Deus da Índia, um Deus alegre que viajava em seu carro de ouro em meio ao pó e às flores das aldeias e que "faz dançar a vida e a morte como irmãs gêmeas".

Há 50 ou 60 anos, a Índia era representada por homens como Tagore ou Gandhi, dois místicos na milenar tradição da sabedoria indiana. Hoje, a cultura indiana é representada por outra figura completamente diferente, o escritor Salman Rushdie, que só começou a ser conhecido em 1989, quando os aiatolás do Irã o condenaram à morte por blasfêmia contra a religião de Maomé, no romance Os Versos Satânicos. Rushdie é um sujeito infeliz. Está mais para pobre diabo do que para Satã. Foi desastrado quando ridicularizou a postura dos muçulmanos em oração (como se estivessem exibindo o traseiro). É infeliz em sua aparência pouco simpática, aqueles olhos mortiços numa cara de marmota. E também foi absurdamente infeliz na declaração, em artigo recente, de que "a religião é um veneno em nosso sangue". Afirmação típica de uma marmota intelectual, dessas que hibernam dez meses por ano e não têm condições para pensar.

Em entrevista recente à revista Veja, declara a Carlos Graieb o seguinte: "O hábito de invocar a autoridade divina para legitimar preconceitos, perseguições e atrocidades é muito antigo, mas ressurgiu com força nos últimos tempos. A meu ver, é um problema central do mundo contemporâneo - e não está de maneira nenhuma restrito ao universo islâmico."

Declarações como essa atestam que Salman Rushdie é o maior expoente da irresponsabilidade intelectual que grassa hoje em dia no Ocidente e no Oriente. Está claro no trecho citado que sua reprovação diz respeito não à religião em si, mas ao fundamentalismo religioso. E, no entanto, com a leviandade e a má-fé típicas de um aventureiro das letras, ele "deixa passar" a generalização para todas as religiões. "A religião é um veneno em nosso sangue." José Saramago subscreveria na íntegra essa declaração de desamor à religião, e por aí se vê como o mundo anda mal, com um Rushdie pontificando no Oriente e um Saramago, no Ocidente, dois escritores de nomeada que se equivalem na opacidade mental e na pequenez do pensamento, só superados em matéria de leviandade intelectual por esse moedeiro falso que é Paulo Coelho, vendendo, em várias línguas, seu misticismo fraudulento e sua nenhuma arte de escrever. Ficou miliardário e entrou para a Academia. Será que a ignorância compensa?

Rushdie e Saramago atordoam a república das letras como os grandes demagogos do ateísmo. Só que o ateísmo é posição mais difícil do que se pensa, e sumamente contraditória. Nega Deus, mas coloca em seu lugar outros absolutos, a "humanidade", a "sociedade", a "natureza", a "história", a "cultura", o "progresso", o "socialismo", etc. Na verdade, os ateus não são ateus, o que eles são é "inimigos de Deus", por questões de ressentimento profundo, neurose, malevolência ou simples mal-entendido.
Algo mais sincero e honesto do que o ateísmo é o agnosticismo, a idéia de que não podemos conhecer o absoluto e que qualquer menção a seu respeito carece de sentido. Agnósticos foram muitos cientistas e filósofos do século 19 e inícios do século 20. O agnosticismo era o que havia de mais politicamente correto para intelectuais frívolos e superficiais como Bertrand Russell, por exemplo. Não para intelectos mais consistentes como Albert Einstein. O agnosticismo foi atitude típica do século 19, quando reinava o positivismo. Hoje parece postura pusilânime, a covardia intelectual de não querer avançar além dos limites reconhecidos do conhecimento. Como diz o filósofo: "Necessitamos de uma perspectiva íntegra, com primeiro e último plano, não uma paisagem mutilada, não um horizonte privado das palpitações incitantes que nos chamam para as últimas perspectivas. Sem pontos cardeais, nossos passos perdem a orientação."

A angustiosa atmosfera intelectual do nosso tempo se afastou tanto do ateísmo quanto do agnosticismo. O que nos caracteriza hoje é a carência do divino. Carência não é o mesmo que falta. Se não tenho asas, estou falto de asas, não carente delas. Se perco um braço ou uma perna, então estou carente do membro amputado. Só ficamos carentes daquilo que nos pertence de fato ou de direito ou a que nós pertencemos. A carência do divino, ou do sagrado, significa que estamos constitutivamente vinculados com o mistério. Ligados desde sempre à divindade. Sabe-se que a palavra "religião", religio, procede de religare (religar, vincular, atar).

Podemos não aderir a nenhuma confissão religiosa em particular, podemos criticar as religiões enquanto instituições e rejeitar veementemente todo fundamentalismo, podemos não ouvir missa aos domingos, mas não temos como sufocar no mais íntimo de nosso ser a palpitação da religiosidade, aquele pressentimento de que o mundo transcende os limites do nosso conhecimento científico e a suspeita de que não estamos sós no universo.

Lembrando Sartre, que no auge do prestígio socialista trombeteava ser "o marxismo o horizonte insuperável de nosso tempo", podemos afirmar, sem erro, que o divino é o horizonte insuperável de todos tempos.

De onde se segue que Salman Rushdie e José Saramago, que posam para o mundo, vaidosamente, como intelectuais independentes e progressistas, não passam de mentalidades anacrônicas e ressentidas.


Gilberto de Mello Kujawski, jornalista e escritor, prepara o lançamento do ensaio Império e Terror (Ibrasa) E-mail: gmkuj@terra.com.br

Fonte: http://www.estado.estadao.com.br/editorias/03/05/29/aberto002.html
# posted by Delerue @ 11:11:00 PM  ::