Nos bastidores da fé

Blog de crítica ao teísmo, em defesa do racionalismo e da ciência. Pretende abordar assuntos sob o tema "deus" e suas idiossincrasias.


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segunda-feira, setembro 29, 2003


Ontem assisti a um filme do Festival de Cinema do Rio chamado "Língua - Vidas em português". Um documentário em que o personagem principal é a língua portuguesa (!). Um filiminho bem chocho, devo admitir. A tentativa inicial, pelo que pareceu, era mostrar a união de pessoas de diferentes origens através da língua portuguesa, o que acabou enverando para um filme demasiado religioso. Não que ele pregasse algum tipo de crença, mas é que o filme ficou muito festivo e isso quase sempre foi associado à cultos religiosos. Como o filme roda o mundo todo atrás de pessoas que falam português - e têm influências desse idioma/cultura -, podemos ver várias culturas. Mas em todas essas culturas pecebemos a presença marcante da crença em deus. Vemos no filme de pastores cariocas a cultos moçambicanos.

Saí do cinema um pouco triste e decepcionado. Parece que a humanidade está ainda muito longe de enxergar a realidade honestamente, sem esperar dela algo mágico e confortante, mas ainda assim ter motivos para querer entendê-la e mudá-la, sem crenças e conformismos.

O ateísmo, de fato, é algo muito pouco conhecido e bem-visto. Em quantos filmes, livros, novelas, revistas etc, etc vemos o tema ateísmo? E quando vemos, quais são as vezes em que ele é tratado com seriedade? Mas em quantos desses veículos vemos a abordagem de temas como religião, deuses, crenças, misticismo etc? A moda bem que poderia servir para alguma coisa útil...
# posted by Delerue @ 4:13:00 AM  ::  




Porque sou ateu - Parte XII - Falácias divinas - Parte IX

3.2 - Argumento da essência. É um argumento bem corajoso, fundamentado na tese segundo o qual o conceito de um ser implica em sua existência. Foi formulado pela primeira vez por Anselmo de Aosta (1033-1109), considerado um santo pela Igreja Católica. Anselmo se indignou com o Salmos X, 4 e Salmos XIV, 1. Recusava possibilidade de haver pessoas, os néscios e os ignorantes que desconheciam a existência de deus. De uma maneira bem geral, o argumento é o seguinte:

Todos concordam que o conceito de Deus é um conceito de um ser perfeitíssimo, e possuindo todos os atributos da perfeição, é o maior de todos os seres e não se pode conceber outro ser maior do que ele; se este outro ser concebido estivesse somente no intelecto e não na realidade, seria razoável conceber outro ser que fosse mais perfeito do que o primeiro, e mais ainda, de existir na realidade. Portanto, este segundo ser seria maior do que o primeiro, o qual disséramos que não poderíamos conceber um maior do que ele, o que é absurdo. Não há dúvida de que aquilo de que não se pode pensar nada de maior exista tanto no intelecto quanto na realidade.


O que Anselmo de Aosta pretende provar é que mesmo aqueles que nunca ouviram falar em deus, acreditam em deus ou podem ter o discernimento intelectual suficiente para concluir que ele exista. Este argumento inspirou diversos filósofos teístas, por isso, é possível encontrar outras versões do mesmo raciocínio.

O raciocínio de Giovanni Fidanza Boaventura (1221-1274), teólogo da ordem dos Franciscanos é semelhante ao raciocínio de Anselmo de Aosta:

Si Deus est Deus, Deus est. (Se Deus é Deus, Deus existe).


Já filósofo Wilherm Gottlieb von Leibniz (1646-1716) monta o argumento da essência da seguinte forma:

Um Ser absolutamente perfeito, se é possível, é um Ser existente, porque, do contrário, não seria um Ser absolutamente perfeito.


O filósofo deísta René Descartes (1596-1650) parte da mesma tese. O seu discurso e bem mais elaborado, e procede assim:

Deus é uma idéia de um Ser imutável, perfeito, infinito, etc. Nada provém do nada; tem de haver uma causa que põe em nós a idéia de Deus. Não sou eu próprio e nem outro objeto, ser humano ou fato que coloca esta idéia. Logo, há um Ser que causa essa idéia e que possui as propriedades mencionadas. Ora, a existência objetiva é mais perfeita que a existência subjetiva. Portanto, a causa da idéia de Deus, é mais perfeita que a idéia que tenho de Deus.


Em resumo, o que estes raciocínios pretendem provar é que não pode existir um ser que seja tão perfeito, que possua todos os atributos da perfeição, inclusive o da existência, e este só exista no pensamento; tal ser tem de existir também na realidade.

O argumento da essência é um raciocínio de "círculo vicioso", uma tautologia, e por causa disso, apresenta as seguintes deficiências:

a. há grande diferença entre uma coisa, um ser e o seu conceito – das propriedades de um conceito não se deduz a existência do seu ser, assim como das propriedades de um animal mitológico, o unicórnio, por exemplo, não se deduz que tal animal exista);

b. a enunciação de uma propriedade não confirma a existência, para confirmá-la é necessário a demonstração lógico-empírica;

c. o argumento ontológico da essência é impreciso nas definições dos atributos de deus; afinal, o que vem a ser "existência"?;

d. ainda há a falácia da petição de princípio, ou seja, o argumento primeiro supõe a existência da divindade para depois tirar disto a sua "existência", dando como prova precisamente o que seria necessário provar: é um raciocínio circular (círculo vicioso).
# posted by Delerue @ 1:56:00 AM  ::  




sexta-feira, setembro 26, 2003


Porque sou ateu - Parte XII - Falácias divinas - Parte VIII

3.1 - Argumento da mente universal. Foi formulado por George Berkeley (1685-1753), bispo da Igreja Anglicana. A tese principal deste argumento é: “se alguma coisa existe, existe porque é percebida”. Segundo Berkeley, "existir é ser percebido" e, por conseguinte, aquilo que não é percebido não existe. A organização deste argumento é mais ou menos assim:

Tudo o que existe, existe porque é percebido por alguma consciência, e o que não é percebido por alguma consciência não existe. Contudo, para evitar o paradoxo de que objetos só existam quando a humanidade de alguma forma os percebe; como por exemplo, o fundo do mar, que existe quando uma expedição marítima resolve fazer um levantamento para depois desaparecer, quando a expedição se retira; o objeto não percebido pela humanidade, entretanto, existe e existe porque é percebido por uma consciência contemplativa, um espírito infinito.


E George Berkeley conclui que o espírito infinito é deus. O argumento de Berkeley possui quatro problemas graves:

a. o argumento possui um erro de dedução, não há como derivar a conclusão "algo existe" da proposição "existe pela percepção de outro ser (ou pela sua natureza necessária)", assim como também não é possível provar de forma palpável;

b. no postulado segundo o qual "existir é ser percebido" há uma contradição lógica, porque o argumento trai a sua própria tese ao aplicá-lo ao espírito infinito, isto é, se a humanidade não percebe o espírito infinito, este, portanto, não existe - ao menos se o próprio espírito percebe a si mesmo, mas aí, como a humanidade perceberia isso?

c. o argumento não é muito claro no que vem a ser "percepção"; segundo Berkeley, Deus sabe o que seja dor, embora não sofra, sabe o que é fome, mas não passe por esta privação, conhece a morte, mas é imortal, tem ciência dos objetos do mundo e contudo, não sente-os com os nervos – se existência é igual a percepção, e a percepção consiste no ato da consciência realizar procedimentos como o querer, o sentir, o entender, o sofrer, etc. - e se essas percepções da divindade não forem exatamente como as percepções humanas, então, o que é essa "existência" da divindade?

d. o argumento comete a falácia da equivocação, empregando a palavra “percepção” várias vezes com mais de uma acepção.
# posted by Delerue @ 11:27:00 PM  ::  




quarta-feira, setembro 17, 2003


Apenas para descontrair.

# posted by Delerue @ 3:44:00 AM  ::  




Porque sou ateu - Parte XII - Falácias divinas - Parte VII

2.5 - Argumento teleológico. É a tese segundo a qual há uma mente que planejou a ordem de todo o Universo.

Todas as coisas no Universo possuem um objetivo, uma finalidade. As estações do ano se sucedem com regularidade, a chuva rega a relva, a relva alimenta os animais do campo, etc., etc. Tudo ocorre como se fosse projetado por uma inteligência, ao qual dá sentido para cada coisa dentro do esquema geral do Universo.


É fácil perceber que o argumento possui a mesma estrutura do argumento teogênico: é um raciocínio por analogia, só que aqui a divindade é tratada como um planejador. O argumento é chamado de Design Inteligente ou ID (sigla em inglês para Intelligent Design).

a. o argumento baseia-se em poucas evidências de fenômenos extraídos de seu contexto, não provando, portanto, nada do que afirma;

b. além de cometer uma inversão; não são as condições do planeta que ocorrem em função da vida, mas a vida que se adaptou a essas condições;

c. o argumento presume que a "razão de ser" das coisas e fenômenos não estão nelas mesmas, mas em algo exterior e transcendente, cujo argumento não consegue provar;

d. o argumento não considera o fato da natureza ou do Universo exibir imperfeições, incoerências e catástrofes.
# posted by Delerue @ 12:35:00 AM  ::  




domingo, setembro 14, 2003


Porque sou ateu - Parte XII - Falácias divinas - Parte VI

2.4 - Argumento da hierarquia de valores. É o argumento fundamentado na tese que há uma hierarquia de valores no Universo, ascendendo até o bem supremo, e este bem supremo é deus.

Não podemos negar que alguns seres são mais belos do que outros, e que alguns seres são mais perfeitos do que outros. A razão nos permite admitir que há um Ser tão excelente e perfeito que não há outro Ser que lhe seja superior, caso contrário, a razão admitiria que o número desses Seres prosseguiria até o infinito. Mas como isto é absurdo, deve haver um Ser superior tal que não possa estar subordinado a nenhuma outra coisa como inferior.


Desconsiderando a conclusão errônea que o "bem supremo é a mesma coisa que a divindade", como conclui os argumentos 2.2 e 2.3, o argumento da hierarquia de valores precisa demonstrar que existe uma hierarquia no Universo e que o grau "bem supremo" seja o ápice para qual todas as coisas apontam.

a. o argumento parte de uma premissa indemonstrável de como um valor é superior a um outro: isto é, superior em perfectibilidade ou excelência em relação a quê?;

b. não é possível sustentar que haja uma hierarquia de valores no Universo, pois que esses valores provém, na verdade, da perspectiva humana;

c. o argumento só leva em consideração a idéia de bem e de perfeição que há no mundo, olvida da existência de imperfeições que há na natureza;

d. a idéia de "bem" é tomada como um valor absoluto para todas as coisas, mas não devemos esquecer que uma coisa tanto pode ser boa quanto pode ser má, dependendo do contexto;

e. o argumento curiosamente desconsidera a possibilidade de existirem seres mais bons que outros ad infinitum, mas considera a existência de um único infinitamente bom.
# posted by Delerue @ 9:02:00 PM  ::  




quinta-feira, setembro 11, 2003


Porque sou ateu - Parte XII - Falácias divinas - Parte V

2.3 - Argumento causal. A idéia central do argumento é a mesma do argumento do primeiro movimento:

Tudo que se move é causado por alguma coisa, mas nem todas os efeitos não devem encontrar a sua origem em causas naturais.


O argumento conclui que há um agente, não necessariamente no fim de uma séria de eventos, que pode ter origem imaterial ou sobrenatural. As críticas feitas ao argumento do primeiro motor também servem para o argumento causal, mas ainda é preciso notar que:

a. o argumento não explica e nem prova a existência de algo imaterial e/ou sobrenatural;

b. também é incapaz de demonstrar como o sobrenatural age sobre causas materiais;

c. e apenas tenta concluir um primeiro agente, mas, não que o primeiro agente é uma divindade.
# posted by Delerue @ 1:28:00 AM  ::  




terça-feira, setembro 09, 2003


Porque sou ateu - Parte XII - Falácias divinas - Parte IV

2.2 - Argumento do primeiro movimento. Este argumento está baseado na tese segundo o qual por trás de cada movimento ou processo na natureza há um agente causador, um primeiro motor.

Tudo que move é movido por alguma coisa. Ora, se aquilo que move é movido por outra coisa, esta outra coisa por sua vez é movida por outra coisa e assim sucessivamente. Mas é absurdo afirmar que a série continue até o infinito. Por isso, é necessário parar e postular o primeiro motor que é a origem de todos os movimentos, e este não é movido por coisa alguma e, este primeiro motor é Deus.


O argumento sustenta que a série de movimentos não podem suceder até o infinito. Por exemplo: árvore balança, o que move a árvore é o vento, o vento é movido pelo deslocamento do ar, o deslocamento do ar é movido pela mudança de pressão atmosférica, a mudança de pressão atmosférica é movida pela alteração da temperatura... e assim em diante. É impossível retroceder até o infinito, e o argumento, então, conclui que deve haver um primeiro movimento.

O argumento do primeiro movimento é um pensamento linear reducionista e por isso, possui os seguintes defeitos:

a. se o argumento admite a ignorância do primeiro movimento, é um contra-senso concluir um agente, no caso, deus, para este primeiro movimento;

b. há um erro primário de raciocínio no fato de abrir uma exceção para encaixar a própria conclusão, não explicando assim porque e nem como o agente primário não precisou ser, como as demais coisas, criado;

c. talvez exista o primeiro movimento, mas isso não demonstra, não prova e nem explica que seja deus.
# posted by Delerue @ 1:21:00 AM  ::  




segunda-feira, setembro 08, 2003


Som de órgãos de igreja pode induzir 'religiosidade'
Jonathan Amos

O canhão de infra-som foi instalado no fundo da sala de concertos
O sentimento de espiritualidade que muitos sentem na igreja pode ser induzido pelos sons mais graves de alguns órgãos de tubos, afirmam pesquisadores da Universidade de Hertfordshire, na Grã-Bretanha.

Muitas igrejas e catedrais têm órgãos com tubos tão longos que emitem sons em freqüências abaixo dos 20 hertz – normalmente inaudíveis para o ouvido humano.

No entanto, em uma experiência em que infra-sons eram tocados em uma sala de concerto, os cientistas descobriram que eram capazes de, quando quisessem, induzir sentimentos na platéia.

Entre eles, uma forte sensação de pesar, frieza e ansiedade e, até mesmo, arrepios.

O infra-som tem sido objeto de intensos estudos nos últimos anos. Pesquisadores descobriram que certos animais, como os elefantes, são capazes de se comunicar com chamadas de baixa freqüência.

Vulcões

Os infra-sons podem ser detectados em vulcões e podem se revelar uma forma de prever erupções.

Um dos recentes estudos nessa área indicou que a sensação de estar sendo observado por alguém que não se consegue ver também pode ser provocada por infra-sons.

Para testar o impacto de notas extremamente graves de um órgão na platéia, os pesquisadores construíram um "canhão infra-sônico" de sete metros de comprimento, que foi posto no fundo do Purcell Room, uma sala de concertos no sul de Londres.

Depois disso, 750 pessoas foram convidadas a relatar as suas sensações depois de ouvir peças de música contemporânea que atravessavam o canhão, tocando freqüências de 17 Hz a volumes entre seis e oito decibéis.

Os resultados mostraram que a ocorrência de “sensações esquisitas” na platéia aumentou 22% quando o infra-som estava presente.

"Já se desconfiava que, devido ao fato de algumas igrejas e catedrais produzirem infra-sons, isso poderia levar pessoas a ter experiências estranhas que elas atribuem a Deus", disse o professor Richard Wiseman, da Universidade de Hertfordshire.


A freqüência tocada era de 17 Hz
"Algumas das experiências do nosso público incluem 'tremores no pulso', 'uma sensação esquisita no estômago', 'aceleração dos batimentos cardíacos', 'grande ansiedade' e uma 'repentina lembrança de perda emocional'", relata ele.

"A experiência foi realizada sob condições controladas e mostra que o infra-som pode ter um impacto e que tem implicações em um contexto religioso e nas experiências incomuns que alguns experimentam em determinadas igrejas."

Para Sarah Angliss, engenheira e compositora do projeto, organistas têm acrescentado infra-sons na composição musical há 500 anos.

"Não somos os primeiros 'viciados em baixo'", disse Angliss.

Fonte: http://www.bbc.co.uk/portuguese/ciencia/story/2003/09/030908_orgaoebc.shtml
# posted by Delerue @ 4:06:00 PM  ::  




sábado, setembro 06, 2003


# posted by Delerue @ 9:40:00 PM  ::  




Estava eu relendo um texto do Richard Dawkins entitulado "A improbabilidade de deus", e me deparei com o seguinte e inusitado trecho:

"O físico-químico Peter Atkins, no seu livro maravilhosamente escrito The Creation, postula um Deus preguiçoso que se esforçou por fazer tão pouco quanto possível para iniciar tudo. Atkins explica como cada passo na história do universo seguiu, por simples lei física, o seu predecessor. Reduziu assim a quantidade de trabalho que o criador preguiçoso precisaria de fazer e no fim de contas concluiu que de facto não precisaria de fazer nada!"

Como admiro a existência de cérebros funcionais. Uma pena serem tão escassos...

Para quem quiser ler o texto na íntegra, cá está o link: http://www.strbrasil.com/Atheos/improbabilidade.htm

# posted by Delerue @ 2:09:00 AM  ::  




Porque sou ateu - Parte XII - Falácias divinas - Parte III

2 - Provas Cosmológicas.

Os argumentos cosmológicos são baseados em "demonstrações" a posteriori, ou seja, a partir da conclusão que há um motivo ou uma causa para a ordem do mundo. São os mais conhecidos, contudo, são os mais fracos em sua persuasão.

2.1 - Argumento teogênico, a mais popular das tentativas teístas de defesa. É fundamentado na tese segundo o qual Universo, complexo como é, precisa de um criador. É apresentado da seguinte forma:

Ao constatarmos a perfeita organização do Universo, perguntamo-nos a origem de tudo e o motivo da precisa regularidade dos fenômenos; daí, a conclusão que o Universo tenha um autor é tão razoável quanto supor que uma fechadura encontrada no meio do deserto tenha um criador.


O argumento teogênico (de teo, deus; e gênico, origem) é um argumento analógico, está baseado na comparação da capacidade humana de produzir artefatos com a idéia de que o Universo foi produzido por alguém. Por ser uma analogia, o argumento possui as seguintes
deficiências:

a. há muitos artefatos humanos mas, apenas um único Universo, logo, não há outros exemplos que apóiem esta suposição;

b. podemos observar facilmente autores humanos em atividade, e de fato observamos autores humanos em ação mas, não com o autor do Universo;

c. os autores humanos, quando produzem alguma coisa, empregam para isso instrumentos (mãos, ferramentas, energia) e também matérias-primas que já existem
anteriormente. Então, baseado nisso, com o que trabalhou e com qual material deus fez o Universo?;

d. o argumento parece esquecer a abissal quantidade de tempo e as inúmeras, pequenas e constantes mudanças que o Universo vem sofrendo para que seja tão complexo como o conhecemos hoje;

e. nossa limitada percepção do Universo e os recursos disponíveis do atual conhecimento não nos permite concluir em definitivo que o Universo tenha um autor;

f. considerando a hipótese da existência de um autor, isso pouco prova quem ele é, de onde, por que e para que veio, onde está etc.
# posted by Delerue @ 1:55:00 AM  ::  




terça-feira, setembro 02, 2003


Porque sou ateu - Parte XII - Falácias divinas - Parte II

1.2 - Apelo ao senso comum. É um argumento que muitas vezes é repetido para demonstrar que deus existe. O fundamento deste argumento é que a idéia de um ser supremo ou de uma divindade é comum a todas as sociedade e em todos os tempos. Quem pela primeira vez valeu-se deste argumento foi Cícero (séc. I a.C.). Há duas formas:

1- Nenhum povo é tão ímpio e nenhum homem é tão incrédulo que não tenha indícios da crença em deuses. Cada cultura e cada civilização sempre acreditaram em algum tipo de divindade. Segue-se que deve existir algum ser sobrenatural.

2- A maioria das pessoas acredita em algum tipo de crença religiosa, portanto, o fundamento de suas crenças deve ser verdadeiro.


Ambos os argumentos partem de dois princípios: primeiro, consideram a crença religiosa uma faculdade constitutiva da natureza racional do homem, isto é, idéias inatas; segundo, utiliza o senso comum para ser a autoridade da questão. As falhas encontradas em ambos
argumentos são os seguintes:

a. não existem idéias inatas, ou um princípio racional que a humanidade descobre em direção ao monoteísmo;

b. o argumento não está baseado em qualquer tipo de evidência na qual a humanidade apóia-se para crer em um ser sobrenatural;

c. basear-se em crenças não é evidência suficiente para apoiar uma suposição, do contrário, seria necessário aceitar a existência de dragões, já que durante muito tempo populações do Japão, China, Europa e América acreditaram;

d. o argumento do apelo ao senso comum evoca o consenso geral, a humanidade, para julgar esta questão, entretanto, a humanidade não é autoridade competente no assunto, pois
conhecemos situações históricas cuja a humanidade, sem sua maioria, esteve muito errada (a forma da Terra, por exemplo).
# posted by Delerue @ 1:22:00 AM  ::