Nos bastidores da fé

Blog de crítica ao teísmo, em defesa do racionalismo e da ciência. Pretende abordar assuntos sob o tema "deus" e suas idiossincrasias.


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domingo, novembro 30, 2003


# posted by Delerue @ 3:28:00 PM  ::  




Porque sou ateu - Parte IX – O suposto livre-arbítrio humano

“Apenas depois de perder tudo é que estaremos livres”
(Fight Club – O filme)

Livre-arbítrio: capacidade de decidir, dentre duas ou mais opções, o que fazer; escolher em função da própria vontade, isenta de qualquer condicionamento, motivo ou causa determinante; (por derivação) indivíduo isento de restrições, controle ou limitações; que não está submetido ao controle de algo, que não a si mesmo.

Obs.: quando não há mais de uma opção, não chamamos de livre-arbítrio, mas automatismo.

A imensa maioria dos teístas acredita que deus nos deu liberdade para fazermos o que bem entender. Mas se formos observar cautelosamente quem somos, iremos perceber que o livre-arbítrio, estritamente falando, não existe. Vejamos porquê.

O livre-arbítrio humano vai contra a idéia de que deus é onisciente, pois tendo deus conhecimento infinito de tudo, ele sabe o que estar por vir. Se tudo está previsto na mente de deus, o homem, por conseguinte, não pode mudar. Portanto, sendo deus onisciente, o livre-arbítrio humano não é cabível. Por fim, é lógico supor que se deus é uma entidade que possui inteligência e poder supremos, logo possui dogmas e regras as quais devemos estar submetidos, o que também vai contra a idéia de livre-arbítrio.

Os homens não escolheram nascer, não foram consultados para traçar seus destinos, não tiveram a mínima chance para optar pelo seu sexo, saúde, beleza, grau de inteligência, condição social etc. Eles não têm controle consciente direto sobre suas paixões, gostos, maioria dos órgãos, constituição do corpo, sentidos etc.

Não obstante, temos que ser honestos em reconhecer que existem sutilezas que determinam nosso comportamento. São influências às vezes muito indiretas e longínquas, mas que possuem uma parcela significante. A seguir vamos ver alguns desses aspectos que influem direta e indiretamente nossas decisões.

1. Genética: muitos de nossos genes determinam uma tendência comportamental. Existem pessoas propensas a serem alegres, depressivas, agressivas, ansiosas etc. Os genes ainda determinam a estética, forma do corpo, cor dos cabelos, olhos, pele etc. Não decidimos nada disso;

2. Fisiologia cerebral: dependendo da fisiologia cerebral, uma pessoa pode ser incapaz de sentir medo, culpa, amor etc. Determinados acidentes no cérebro, por exemplo, determinam características que o indivíduo não possuía anteriormente;

3. Os hormônios: maníacos sexuais e homens agressivos, de uma forma geral, têm taxas mais altas de testosterona. Alterações hormonais provocam mudanças radicais de humor em muitas mulheres. E os hormônios também têm uma grande parcela na distinção entre os sexos;

4. Sociedade: não ser antropófago para nós é fácil, mas para uma tribo isolada que vê esse costume com naturalidade, não. Somos reflexos de nossa sociedade, absorvemos conceitos por difusão, e depois temos a impressão de que os escolhemos;

5. Cultura: Uma fatia considerável dos brasileiros gosta de futebol, e acha que “adotou” esse esporte como se não fosse induzido a isso. O mesmo acontece com a religião. Na Índia, por exemplo, é proibido matar uma vaca para comer, pois tal animal é considerado sagrado. Na China os casais não podem ter mais de um filho, para garantir assim o controle populacional. E por aí vai;

6. Conhecimento: o quanto sabemos sobre determinado assunto influi diretamente em nossas decisões. Por exemplo, um técnico em informática, tendo conhecimento considerável sobre hardware, vai comprar determinado computador, já o usuário leigo irá comprar outro. Ademais, é impossível, por simples vontade, desconhecer o que já se sabe;

7. Educação: a educação nos dá uma bússola, pela qual nos guiaremos por boa parte da vida, se nos derem uma bússola com defeito será difícil se desfazer dela. Os palestinos ensinam desde de cedo o ódio aos israelenses, levam seus filhos para tacar pedra no lado de Israel, os colocam para queimar bandeiras etc. Da mesma forma um filho de judeus tem enorme probabilidade de se tornar também um judeu;

8. Experiências de vida: uma pessoa que enfrentou determinada intempérie, provavelmente agirá diferente de quem não a enfrentou. Cerca de 25% dos pedófilos e grande parte dos psicopatas foram abusados na infância; traumas psicológicos podem se tornar neurológicos. Uma juíza que foi estuprada certamente julgaria um estuprador diferentemente de um juiz que assedia sexualmente sua empregada.

Conclusão: como podemos observar, nossas decisões não cabem exclusivamente às nossas vontades. Tudo o que desejamos e fazemos está ligado a inúmeros fatores que transcendem nossa escolha. Além disso, somos seres imperfeitos e, portanto, limitados; não podemos fazer tudo o que quisermos. Fica então fácil perceber que a partir do momento que existe deus, nossa liberdade estará presa às suas regras pré-estabelecidas. Em suma, o livre-arbítrio, estritamente falando, é, portanto, um conceito ingênuo e irreal, pois desconsidera uma gama de fatores que influenciam o indivíduo.
# posted by Delerue @ 5:15:00 AM  ::  




terça-feira, novembro 25, 2003


# posted by Delerue @ 12:20:00 AM  ::  




segunda-feira, novembro 24, 2003


A intocável fé - Parte II

Lembro-me bem de já ter ouvido algumas vezes a justificativa de que a religião é base para a vida de muitas pessoas. De que muitas delas vivem de tal forma que sem suas crenças, a vida seria impossível. Há caso de pessoas que pensavam em se matar, mas mudaram de idéia graças à religião. Outras estavam com alguma doença que afetava em muito o emocional, e encontram refúgio na religião. Há também casos de uma fé curandeira, que curiosamente supera em muitos casos o conhecimento da ciência, resolvendo assim questões sem nenhum tipo de explicação.

Essas defesas sugerem mais uma vez a intocabilidade que a fé possui. Novamente são criados argumentos para tentar defender essa idéia de forma pseudo-racional, camuflada de "respeito". Nada além de um modo, de certa forma, desesperado, de escapar de questões completamente infundadas, incoerentes e, às vezes, insanas criadas pelas crenças.

Dizer que algumas pessoas dependem da fé para sobreviver da mesma forma que um paraplégico depende de sua cadeira-de-roda para poder locomover-se, é cair num erro crasso de raciocínio. Seguindo essa mesma linha de pensamento podemos afirmar que tirar a bebida de um alcoólatra é apagar seu motivo de vida. Ou que deixar um usuário de cocaína sem sua droga é destruir sua razão de existir. Os argumentos são precários, pois usam como base uma falsa analogia, além de comparar coisas inteiramente diferentes. O argumento ainda considera - de forma infundada - uma verdade para poder sustentar-se.

Se o argumento fosse levado até as últimas conseqüências – desconsiderando, claro, o fato da falsa analogia –, não haveria como explicar a existência dos céticos. E nessa simples constatação é possível perceber a incoerência e a ingenuidade do argumento, que parece não querer analisar a questão de forma mais profunda e completa, indo até suas origens e compreendendo as causas.

O que acontece é que grande parte das pessoas é educada desde cedo a crer – e a ter a idéia de que isso é o combustível da vida (algo como: ”para viver, você precisa necessariamente crer em algo”) -, mas dificilmente é ensinada a pensar. As crenças são idéias extremamente passivas e tendem a ficar impregnadas nas mentes de tal forma que num dado momento da vida, quando certas dificuldades aparecem, essas pessoas sentem uma necessidade desesperada de se agarrar a algo, a uma resposta rápida e fácil – a crença. A compreensão dos fatos é algo que requer muita reflexão, o que, para alguém acostumado a crer, é demasiado árduo e complexo.

Fica então claro que as crenças não são a solução, mas uma resposta a um tipo de vida – infelizmente, a da maioria – que tende ao irracionalismo e à passividade. É a resposta a algo que foi aprendido muito cedo, quando o senso crítico e seletivo está basicamente nas mãos dos educadores (família e professores). E é exatamente disso que as pessoas são dependentes, do seu passado, da sua formação crítica e filosófica. A crença, portanto, não é uma ação, mas uma reação.

Continua...
# posted by Delerue @ 12:58:00 AM  ::  




quarta-feira, novembro 12, 2003


Porque sou ateu - Parte XIII - Deus é tudo e tudo é deus – o panteísmo

“Reduzir a vontade de Deus a meras leis impessoais nos conduz a um beco sem saída, porque, nesta situação, o panteísmo não diz coisa alguma, pois não passa de um jogo de palavras vazio.”
(André Cancian)

O panteísmo é uma das doutrinas mais difundidas atualmente, pois devido ao avanço desenfreado do conhecimento humano, esta é uma das poucas defesas de uma idéia divina que ainda não foi refutada e elucidada formalmente pela ciência, possuindo assim – aparente – coerência. Ele propõe que deus é a soma de todas as coisas no Universo: a matéria, as forças, ondas, leis, mistérios etc. Absolutamente tudo o que conhecemos é, somado ao que ainda não conhecemos, o que chamamos de deus panteísta. Ele é tudo e tudo é ele; suas manifestações são expressadas através dos eventos cósmicos e regidos por sua inteligência, que são as leis físicas.

Aparentemente esse deus não possui nenhuma contradição ou erro lógico, o que, comparado ao deus tradicional, é um grande passo em prol da defesa da suposta existência divina. É muito comum que pessoas afirmem o panteísmo como algo cabível, pois há poucas afirmações, e essas parecem se enquadrar perfeitamente em nossa realidade objetiva. A princípio não há como discordar de sua preposição. Isso se não fosse pela ausência de conteúdo que a doutrina prega.

O argumento panteísta é de um vazio tão vasto que até mesmo refutá-lo se mostra difícil. Com praticamente uma afirmação – “Deus é tudo” –, o panteísmo parece querer escapar de qualquer espécie de ataque e/ou refutação, como se fosse uma última e desesperada tentativa de afirmar um deus coerente e, portanto, possível. Schopenhauer, pensando sobre isso, deduziu o óbvio:

“Contra o panteísmo, sustento principalmente que ele não diz nada. Chamar Deus ao Mundo não significa explicá-lo, mas apenas enriquecer a língua com um sinônimo supérfluo da palavra Mundo. Se dizeis “o Mundo é Deus” ou “o Mundo é o Mundo”, dá no mesmo. Quando partimos de Deus como se ele fosse o dado e o a-ser-explicado, e dizemos portanto: “Deus é o Mundo”; então numa certa medida existe uma explicação, ao se reconduzir ignotum a notius: mas trata-se somente de uma explicação de vocabulário. Porém, quando se parte do efetivamente dado, portanto o mundo, e se afirma “o Mundo é Deus”, então se torna claro que com isto não se diz nada, ou ao menos que se explica ignotum per ignotius [O desconhecido pelo mais desconhecido].”

Fica então concluído que a afirmação “Deus é tudo” não diz, explica, adiciona ou prova absolutamente nada, mas apenas tenta atribuir um ar místico ao Universo, tão pouco conhecido por nós. Os panteístas deveriam, portanto, reconhecer nossa ignorância diante a vastidão complexa e intrigante do Cosmos, admitir que o Universo se chama Universo, não deus, e perceber que sua doutrina não passa de uma mera evasiva poética.
# posted by Delerue @ 2:41:00 PM  ::  




terça-feira, novembro 11, 2003


E aqui acaba a sub-seção Falácias divinas, que faz parte da ainda em continuação seção do blog chamada Por que sou ateu

Porque sou ateu - Parte XII - Falácias divinas - Parte XIII

4.3 - A Desculpa de Carl Jaspers. Pensador dinamarquês, Carl Jaspers (1883-1969) foi um filósofo existencialista e crente. Após meditar sobre a inutilidade de provar racionalmente a existência de um ser divino, Carl Jaspers revoltou-se contra os argumentos discursivos e elegeu o fundamento da fé para sustentar Deus.

A existência de Deus não precisa ser demonstrada. Se é comprovada a existência de Deus, consoante os modelos matemáticos ou métodos científicos, então, a existência de Deus é falsa. Um Ser supremo comprovado cientificamente não nos mostraria um Ser transcendente, não seria um deus, mas uma mera coisa do mundo. Assim, cabe ao fiel aceitar Deus sem discussão.


A opinião e reviravolta de Carl Jaspers é explicável: a situação se inverteu, os deístas, que procuravam no raciocínio metodicamente lógico, perceberam a invalidade de suas hipóteses, passando a se sustentar no sentimento humano; além disso, o argumento de Carl Jaspers merece as seguintes observações:

a. por causa do fracasso em sustentar racionalmente a validade dos argumentos teológicos, Carl Jaspers refugia-se na necessidade do sentimento humano por causa de sua angústia, formulando assim um argumento meramente subjetivo, portanto, tão indiscutível quanto incomprovável;

b. conseqüentemente, como todas as provas morais, a divindade deixa de ter uma existência empírica, real, e passa a ter uma existência restrita à consciência, uma existência desejável;

c. o argumento não demonstra – e nem pretende demonstrar – o que é e como funciona o fenômeno da fé;

d. uma das faculdades mais importantes da humanidade é a sua capacidade de discutir e questionar, Carl Jaspers quer que o fiel acate cegamente os preceitos da teologia.


(Adaptação, correção e edição do texto “Argumentos referentes à existência de deus”, de Edmílson Bento da Silva).
# posted by Delerue @ 12:59:00 AM  ::  




domingo, novembro 09, 2003


Uma entrevista de maio de 2003 realizada pela Veja foi lembrada por um colega forista do Religião é Veneno. A entrevista é com Salman Rushdie, autor de Os Versos Satânicos. Existem muitos pontos interessantes, como o trecho a seguir:


"Veja – Existe algum espaço para a religião na esfera política?

Rushdie – Não creio que deva existir. Estaremos muito melhor com os princípios de separação entre Estado e Igreja estabelecidos pela Revolução Francesa. Se as pessoas querem acreditar em Deus, se derivam prazer, conforto ou apoio moral dessa crença, não sou eu quem vai criticá-las. Mas as coisas tendem a se complicar quando a religião se confunde com o poder e interfere nos processos de decisão política. Pois a linguagem da religião é uma linguagem de absolutos que, mais cedo ou mais tarde, levam à estigmatização de um grupo. Como o grupo dos ateus, por exemplo. Na última eleição presidencial americana, um grande jornal realizou uma pesquisa perguntando em quais candidatos das chamadas minorias os eleitores aceitariam votar. As pessoas, em geral, disseram que não se oporiam a candidatos negros, a mulheres ou a homossexuais. Quando perguntaram se votariam num ateu, contudo, a situação mudou: mais de 50% disseram que não. Você é inelegível se duvidar da existência de Deus."


O sujeito parece muito lúcido e tranqüilo. Não é à toa que sua reputação foi atacada ferozmente por tudo quanto é lado. Quem estiver interessado em ler a entrevista na íntegra, acesse: http://veja.abril.com.br/140503/entrevista.html (apenas para assinantes da Abril) ou Tópico do fórum Religião é Veneno (livre acesso).

# posted by Delerue @ 3:26:00 PM  ::  




sexta-feira, novembro 07, 2003


Uma ótima e inusitada notíca - não tão recente assim.

China promove ateísmo

PEQUIM - O Governo chinês ordenou à mídia estatal que promova os valores ateus, como forma de resistir ao crescimento da religião na sociedade. A informação é do jornal South China Morning Post.

''O ateísmo deve ser exaltado nas rádios e tevês. Por outro lado, os princípios espirituais de seitas como Falun Gong devem ficar em interdição'', afirma o jornal, com base em fontes oficiais.

Os novos programas vão detalhar o Marxismo, o Leninismo e o Maoísmo - os três pilares ideológicos do Partido Comunista - e serão mais ''alegres e coloridos'' que no passado. O objetivo é atrair as novas gerações, menos interessadas na ideologia, insistindo no ''conhecimento científico e tecnológico''.

Segundo observadores, o ex-presidente Jiang Zemin, engenheiro de formação e ateu confesso, é o defensor da campanha. Apesar da falta de relações entre China e Vaticano, o número de católicos e protestantes aumentou nos últimos dois anos, chegando a 12 milhões e 20 milhões, respectivamente.

Além disso, a concorrência e a obsessão pelo dinheiro na China atual levaram ao retorno de um grande número de pessoas aos templos budistas, taoístas, muçulmanos, católicos e protestantes, as cinco crenças permitidas.

A tolerância com religião acabou em 1999, quando a seita neobudista Falun Gong virou um movimento de massa com mais simpatizantes (60 milhões) que o próprio PC. A Constituição da China, que desde 1949 é um Estado não confessional, garante a liberdade de fé, mas, na realidade, persegue toda prática religiosa fora do âmbito das organizações do governo. (EFE)

Fonte: http://jbonline.terra.com.br/jb/papel/internacional/2003/10/24/jorint20031024012.html
# posted by Delerue @ 4:15:00 AM  ::  




Porque sou ateu - Parte XII - Falácias divinas - Parte XII

4.2 - A aposta de Pascal. Este argumento está fundamentado em uma escolha vantajosa ao qual o interessado precisa fazer. Segundo Blaise Pascal (1623-1662), o homem precisa escolher entre uma vida na qual deus existe e uma vida na qual deus não existe. Contudo, se a reflexão intelectual não permite decidir entre um e outro, Pascal sugere o seguinte:

O ser humano não pode hesitar, deve viver como se Deus existisse ou deve viver como se Deus não existisse. Mas, se a razão não o convence, então, deve recorrer ao que lhe é mais conveniente, como o jogo. Se o ser humano aposta na existência e ganha, tudo ganha; já se aposta na não existência e perde, nada perde.


Pascal foi um dos maiores apologistas do cristianismo e um precursor da contemporânea filosofia existencialista. O intento de Pascal é demonstrar o que ele acredita ser a "miséria da vida humana sem Deus". Seu argumento possui os seguintes inconvenientes:

a. o argumento não possui nenhuma validade explicativa ou empírica (por se tratar de uma mera metáfora poética) ao afirmar que crendo tudo se ganha, mas descrendo tudo se perde;

b. o argumento é paradoxal: pretende discorrer sobre a atitude ética e, no entanto, discorre sobre a linguagem de mesa de jogo;

c. não está muito claro o que o jogador exatamente ganha se apostar na existência de Deus;

d. pode-se facilmente formular um contra-argumento baseado na vaga premissa do autor, ou seja, podemos dizer que crer em deus significa a perda e a descrença significa a vitória, e como nenhuma das afirmações tem base, possuem, portanto, a mesma validade.
# posted by Delerue @ 3:15:00 AM  ::  




terça-feira, novembro 04, 2003


O tópico a seguir ficou faltando para completar as provas subjetivas das Falácias divinas. Peço desculpas pelo descuido. Cá está:

Porque sou ateu - Parte XII - Falácias divinas - Parte ?

1.3 – Experiência pessoal. É um argumento muito utilizado atualmente, considerado de difícil refutação. Ele basicamente tenta demonstrar que a experiência pessoal prova a existência de deus. Pode ser resumido da seguinte forma:

Sinto uma força maior dentro de mim, e essa força é deus. Se sinto deus, então não há dúvidas de que ele existe.


O argumento é desconstruido da seguinte forma:

a. da mesma forma que se afirma que deus existe porque se sente, é possível dizer que não existe porque não se sente;

b. a afirmação não pode ser provada. Ademais, muitas pessoas sentem a existência de papai Noel, coelhinho da páscoa, mula sem cabeça, duendes, bruxas, unicórnios etc, etc; o que, de maneira alguma, prova que essas coisas existam;

c. pelo princípio da Navalha de Occam, devemos eliminar as entidades. Portanto o que se define como deus pode ser facilmente substituído por outras definições menos fantasiosas e mirabolantes, e sem a menor alteração de sentido;

d. é de se considerar o fato de nosso cérebro ser mais influenciado por necessidades do que por fatos;

e. o argumento – além de não provar – não explica nada sobre o que afirma, deixando uma idéia infundada e vaga demais para ser levada adiante.
# posted by Delerue @ 5:37:00 PM  ::  




Porque sou ateu - Parte XII - Falácias divinas - Parte XI

4 - Provas Morais.

As provas morais são afirmações de que a existência da divindade cumpre uma finalidade salutar: a garantia de tudo o que há de excelente no mundo, sobretudo, no mundo humano. São baseadas em "provas" psicológicas como a atitude ética, consensual e moral, procurando demonstrar que a finalidade da existência do ser supremo é desejável e
conveniente à vida social (à ordem, à legalidade, à solidariedade etc).

Por conseguinte, as provas morais estão baseadas em raciocínios persuasivos, descartando os processo de dedução intelectual para alcançar algum tipo de conclusão.

4.1 - A explicação de Kant. Immanuel Kant (1724-1804) foi um grande filósofo da teoria do conhecimento. Kant examinou diversas formas de argumentos relativos à existência de um ser supremo, algumas de suas brilhantes observações são utilizadas neste ensaio. Ele invalidou todos os argumentos racionais para ater-se ao fundamento moral que a crença em uma divindade é conveniente. Seu raciocínio é bastante complexo, mas podemos transcrever da seguinte forma:

Qualquer intento, seja ele científico, filosófico ou religioso, para definir a realidade, para alcançar o conhecimento transcendental (fora da consciência) é inútil, pois, para cada tese (afirmação) que a consciência formula, é possível opor uma antítese (negação) igualmente válida. Sendo assim, é impossível concluir a afirmação ou a negação sobre os atributos da realidade: se existe ou não existe Deus; por meio dos métodos normais do conhecimento. Não obstante, a razão sempre é mais favorável à opção da primeira hipótese, a tese, isto é, a existência de Deus. É uma questão de verdade da crença, da consciência ética; é uma necessidade de ordem moral para garantir a felicidade.


O argumento supracitado é deveras complexo e merece alguns esclarecimentos. Kant concorda que o conhecimento humano, as idéias que estão em nós, são formadas através da experiência sensível. Conhecemos a cadeira, a montanha, as pessoas etc porque as sentimos e as percebemos; contudo, há certas idéias que ao se formarem não entram em contato com coisa alguma, por exemplo, a idéia de democracia, liberdade, de justiça etc. Kant sustenta que há na razão humana idéias a priori que permitem a formulação de tais idéias.

As críticas que dirigidas ao raciocínio de Kant são as seguintes:

a. a questão da confirmação de uma hipótese não se prova ou refuta na teoria (ou na consciência), mas se verifica na prática (ou na realidade); é na experimentação e na demonstração que se refuta ou confirma a hipótese;

b. a possibilidade cognitiva da humanidade está sujeita à transformação e ao desenvolvimento histórico, mas para Kant os conceitos que a humanidade formula são fixos e são propriedades universais da mente humana;

c. de acordo com Kant, cada indivíduo formula em sua consciência o conceito do divino. Deus é o postulado da razão prática, uma condição a priori do conhecimento objetivo cuja fonte é a moralidade - ao contrário, o conhecimento é fruto das indispensáveis práticas sociais humanas;

d. na verdade não há moralidade universal e absoluta necessária para todos os homens e todos os povos, a moral muda constantemente na história;

e. para Kant, a existência do conceito de divindade em nossa consciência é o fundamento do dever moral, a garantia de felicidade. Ele esquece que crença alguma é garantia de felicidade, como assim podemos observar na prática;

f. conseqüentemente, a fonte da moralidade não se encontra na consciência, mas deve ser buscada na sociedade, considerando, claro, sua época.
# posted by Delerue @ 2:43:00 PM  ::  




segunda-feira, novembro 03, 2003


# posted by Delerue @ 2:20:00 AM  ::